O trabalho forçado nas galés pela Inquisição


Além do confisco dos bens, da destruição da casa (do herege e do vizinho), dos 200 a 400 açoites e da prisão perpétua em um cárcere feito propositalmente para ser horroroso a fim de acentuar o sofrimento da vítima, a Inquisição ainda punia seus réus com trabalhos forçados, tal como Hitler fazia com os judeus nos campos de concentração nazistas e o líder supremo da Coreia do Norte continua fazendo até hoje com os cristãos de lá. Os que assim fossem punidos teriam que trabalhar como escravos para a Igreja pelo tempo correspondente à sua condenação.

Peña escreve que “aqueles que depois de abjurar forem condenados pela Inquisição a trabalhos forçados, serão levados para as prisões comuns, através da guarda civil, orientada detalhadamente quanto ao teor da sentença inquisitorial”[1]. Quando a pergunta do interlocutor no manual era: “Deve-se degradar quem é condenado aos trabalhos forçados?”, a resposta era simples e objetiva: “Sim”[2].

Mas em se tratando de Igreja Católica, você já deve adivinhar que estes trabalhos forçados não seriam em um lugar comum. Para variar, a Igreja precisava acentuar o sofrimento da vítima. Por isso, enviava os prisioneiros para trabalhar como escravos no pior de todos os lugares: as galés. As galés eram antigas embarcações de guerra, e os prisioneiros eram ali enviados para “um ambiente sujo, sem ventilação, com um calor insuportável. Neste lugar, os homens conviviam com alimentos estragados e corriam o risco constante de contrair doenças”[3].

Sobre isso, o professor Emanuel Luiz Souza e Silva escreve:

Em geral, quem era enviado para trabalhar nas galés vivia pouco, devido à ausência de refeições saudáveis, à labuta incessante sem descanso e às agressões físicas sofridas – chicotadas – pelo não cumprimento das ordens dadas. Os galerianos também usavam calcetas – argolas de ferro com correntes presas à perna –, coisa que só aumentava o sofrimento para quem fazia trabalhos forçados. O cansaço e as dificuldades resultantes de tanta pressão provocavam o que era considerada por muitos uma morte lenta e sofrida.[4]

Ainda de acordo com o professor, a alimentação dos galerianos variava entre biscoitos duros, carne salgada, ervilha e lentilha, todos os itens distribuídos em pequenas porções. Eram poucos os galerianos que saíam sem nenhuma sequela desses trabalhos forçados. Segundo Green, muitas vezes um prisioneiro era acorrentado aos pés de outro prisioneiro[5].

Na maioria dos casos, “eles contraíam doenças, como úlcera, ficavam aleijados, perdiam a consciência ou morriam nas galés”[6]. Emanuel afirma que este era o castigo mais severo entre as penalidades da época, “muito mais rigoroso do que o desterro para o Brasil ou para regiões da África”[7]. Só a morte na fogueira era considerada pior. Mesmo assim, Green destaca que a escravidão nas galés “muitas vezes equivalia a uma sentença de morte”[8].

Numerosos prisioneiros da Inquisição eram enviados o tempo todo às galés. Já mencionei neste livro os casos de William Collins, condenado por luteranismo a dez anos nas galés[9], do frei Gaspar de la Huerta, condenado por cinco anos às galés sem remo e sem soldo[10], de Gregorio Ardid, condenado a seis anos nas galés por quebrar o sigilo da Inquisição[11], e de Cristóbal de Arnedo, condenado a oito anos nas galés pelo mesmo motivo. Membros da maçonaria também eram enviados às galés[12].

Dois casos merecem atenção especial. Um ocorreu em 1556, quando um escravo chamado Antonio decidiu começar a se vestir de mulher e a se chamar de Vitória. A Inquisição não podia deixar isso acontecer e decidiu investigar as partes íntimas de Antonio, para descobrir se ele tinha vagina. Resultado: não tinha. Que surpresa. Como castigo, foi enviado às galés como escravo[13]. O outro caso é mais revoltante. Em 1703, na Bahia, um escravo angolano chamado José foi violentado pelo seu senhor, João Carvalho de Barros. A Inquisição, ao invés de punir o estuprador e consolar a vítima, processou o escravo pelo crime de “homossexualismo”. José foi açoitado e sentenciado a cinco anos nas galés[14].

Só entre 1823 e 1846, ou seja, em um período de apenas 23 anos, os Estados Papais, regidos à base de teocracia católica, condenaram cerca de 200 mil pessoas às galés, ao exílio, à prisão perpétua ou à morte[15]. Este número desconsidera todos os outros que foram enviados nos cinco séculos anteriores, e mostra um pouco do terror que o papado representou ao longo de todo o período inquisitorial.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

- Extraído do meu livro: "A Lenda Branca da Inquisição".

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[1] EYMERICH, Nicolau; PEÑA, Francisco. Manual dos Inquisidores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1993, p. 160.
[2] ibid, p. 176.
[4] ibid.
[5] GREEN, Toby. Inquisição: O Reinado do Medo. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda, 2007.
[6] ibid.
[7] ibid.
[8] GREEN, Toby. Inquisição: O Reinado do Medo. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda, 2007.
[9] ibid.
[10] ibid.
[11] ibid.
[12] BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2001.
[13] GREEN, Toby. Inquisição: O Reinado do Medo. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda, 2007.
[14] ibid.
[15] ibid.

Comentários

  1. LUCAS O QUE VOCE ACHA DO PASTOR ED RENE KIVITZ E DE SUAS PREGAÇOES. ABS!

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    1. Acho ele um dos melhores senão o melhor pastor em atividade no Brasil. Equilibrado, inteligente, ponderado, intelectual, talentoso... quem dera que todos os pastores fossem como ele.

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  2. Já conheço todos esses artigos, são todos muito fracos e pessimamente argumentados. Sobre esses temas eu já tenho dezenas de artigos refutando a cada um, veja alguns:

    a) Sobre o episcopado de Pedro em Roma:

    http://apologiacrista.com/pedro-nunca-foi-bispo-de-roma

    http://apologiacrista.com/a-missao-secreta-de-pedro

    b) Sobre o culto às imagens na Igreja primitiva:

    http://heresiascatolicas.blogspot.in/2015/03/os-pais-da-igreja-contra-o-culto-as.html

    http://apologiacrista.com/imagens-de-escultura

    c) Sobre a virgindade perpétua de Maria:

    http://heresiascatolicas.blogspot.in/2012/08/nao-conheceu-ate-que.html

    http://heresiascatolicas.blogspot.in/2016/05/as-provas-incontestaveis-do-terceiro.html

    http://heresiascatolicas.blogspot.in/2012/09/os-irmaos-de-jesus-eram-primos.html

    Sobre a Inquisição, todos esses assuntos estão sendo (e ainda serão) tratados em meu livro sobre o tema. Eu já escrevi bastante coisa além dos artigos que ando postando diariamente no blog, em menos de um mês o livro já estará pronto.

    Abs!

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  3. meu amigo voçe precisa ler e entender nao ficar inventando mentira sobre a igreja ctolica nao toda sua leitura e uma leitura cega leu e nao entendeu e fica falando asneira voçe e um cagao

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  4. Valeu Lucas. Muito obrigado meu irmão pela contra argumentação. Lucas, você deve conhecer o Pr. Paulo Junior de Franca - SP, Igreja Aliança do Calvário. As vezes temos algumas posições teológicas diferentes mas ele é um grande homem de Deus. Deus te abençoe hoje e sempre. Um forte abraço...

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  5. "Meu amigo voçe precisa ler e entender nao ficar inventando mentira sobre a igreja ctolica nao toda sua leitura e uma leitura cega leu e nao entendeu e fica falando asneira voçe e um cagao"

    “VOÇÊ precisa ler”, “VOÇÊ é um cagão”, HAHAHAHAHAHA

    Por que será que todo católico que entra aqui no meu blog é um jumento escroto que não sabe nem escrever? #misterio

    Vocês são a diversão do meu dia, por favor, não sumam!

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  6. "Valeu Lucas. Muito obrigado meu irmão pela contra argumentação. Lucas, você deve conhecer o Pr. Paulo Junior de Franca - SP, Igreja Aliança do Calvário. As vezes temos algumas posições teológicas diferentes mas ele é um grande homem de Deus. Deus te abençoe hoje e sempre. Um forte abraço..."

    Olá, Silas. Se este é o pastor Paulo Junior que eu conheço (aquele dos vídeos do YouTube), ele é muito bom mesmo, um dos melhores pastores do Brasil. É o "Paul Washer" brasileiro, eu diria (com o mesmo estilo deste fantástico pastor americano). Precisamos de mais gente como ele e menos dos que estão na TV.

    Abs!

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  7. Lucas, vc conhece Romeu Bornelli?

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  8. Isso sem falar em John Knox, que ficou preso a uma galé durante 18 meses, o que arrebentou sua saúde. Mesmo assim, voltou à Escócia e pregou vigorosamente até a morte.

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