O Cânon Bíblico dos Judeus


Este artigo começou em um debate em um grupo no facebook sobre o cânon bíblico. Dois católicos – um civilizado chamado Jorge Luiz e outro não-civilizado chamado Cristiano Macabeus (o mesmo que aparece neste artigo xingando os evangélicos de todos os nomes possíveis) – trouxeram alguns argumentos contra o cânon bíblico de 66 livros e a favor do cânon largo católico, de 73 livros[1]. Eles perceberam a lógica apresentada pelos evangélicos, que diz que:

O reconhecimento do cânon veterotestamentário era de atribuição dos judeus.

Os judeus reconheceram um cânon veterotestamentário sem os apócrifos.

Logo, os apócrifos não devem ser reconhecidos como parte do cânon bíblico do AT.

Em geral, os católicos costumam atacar o ponto 1, alegando que é a Igreja, e não os judeus, que tinha a autoridade de reconhecer o cânon do Antigo Testamento, mas parece que alguns deles perceberam o quão absurdo é essa alegação e passaram então a atacar a segunda premissa, sustentando de forma inédita que os judeus criam na canonicidade dos apócrifos, ou que fossem divididos e não tivessem um cânon definido. Eles argumentaram que:

a) Os saduceus tinham um cânon diferente dos fariseus.

b) Os alexandrinos tinham um cânon diferente dos palestinos.

c) O Concílio de Jâmnia não reiterou o que já era aceito antes, mas inovou.

d) Os judeus atuais não têm um cânon definido e não creem na canonicidade de todos os 39 livros.

É claro que todos os quatro pontos acima são historicamente falsos. Mas começaremos este estudo analisando o primeiro ponto, e em seguida passaremos a conferir a validade destes argumentos.


CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO – RECONHECIMENTO DOS JUDEUS

Este argumento começa com uma premissa óbvia: não existia Igreja cristã no Antigo Testamento. Se a Igreja cristã não existia, como é que ela poderia ter reconhecido um cânon veterotestamentário? A Igreja cristã passou a existir no primeiro século da era cristã, na época do Novo Testamento. Deve ser lógico, se devemos ser consistentes, que o reconhecimento do cânon neotestamentário é dever dos cristãos, enquanto o do cânon veterotestamentário é de atribuição dos judeus. Foi Israel – e não a Igreja cristã – a nação escolhida por Deus no tempo do Antigo Testamento – “eu vos separei dos povos, para serem meus” (Lv.20:26); “de todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido” (Am.3:2).

É a Israel que Deus deu Seus mandamentos, as tábuas da aliança, a Lei, as promessas, as Escrituras. Todos os autores bíblicos do Antigo Testamento eram judeus, e todos esses livros foram escritos, em primeiro lugar, para judeus. Era a Israel que Deus chamava de “meu povo” (Je.12:16), eram deles o Templo, o sacerdócio levítico, a Arca da Aliança, as revelações. Quando Jesus veio ao mundo já existia Escritura, que foi citada várias vezes por Cristo e, no total 90 vezes no Novo Testamento.

De onde veio o reconhecimento de alguns livros como “Escritura”, na época de Jesus? Não podia ser da Igreja cristã, que ainda não existia. Só podia ser dos judeus. Os judeus reconheceram certos livros como inspirados, Jesus aceitou essa inspiração e os citou como sendo de fato Escritura Sagrada. O apóstolo Paulo disse:

“Qual é logo a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? Muita, em toda a maneira, porque, primeiramente, as palavras de Deus lhe foram confiadas. Pois quê? Se alguns foram incrédulos, a sua incredulidade aniquilará a fidelidade de Deus? De maneira nenhuma; sempre seja Deus verdadeiro, e todo o homem mentiroso; como está escrito: Para que sejas justificado em tuas palavras,E venças quando fores julgado” (Romanos 3:1-4)

Paulo diz que as palavras de Deus foram confiadas aos judeus. Outras traduções trazem “oráculos” (logion). O que era um oráculo? De acordo com a Concordância de Strong:

3051 λογιον logion
de 3052; TDNT - 4:137,505; n n
1) breve elocução, oráculo divino (certamente porque os oráculos eram geralmente breves).
1a) no NT, as palavras ou elocuções de Deus.
1b) dos conteúdos da lei mosaica.

Oráculo era uma palavra pronunciada por alguém. Quando Habacuque inicia seu livro dizendo ser o “oráculo do profeta Habacuque” (Hb.1:1), ele estava dizendo que aquelas eram as palavras que ele recebeu a pronunciar sobre Israel. Os oráculos de Habacuque eram somente o livro de Habacuque, mas os oráculos de Deus são todas as Escrituras, pois a Escritura, como um todo, é chamada por Jesus de “palavra de Deus”(Mt.15:6). Portanto, a Sagrada Escritura é o oráculo divino para a humanidade, é a Palavra de Deus.

Mas Paulo diz que esses oráculos foram confiados aos judeus (Rm.3:2), e isso deveria ter uma razão, e tem: Deus confiou a Sua Palavra aos cuidados deles. Era deles a responsabilidade de reconhecerem os livros inspirados, era deles a responsabilidade de preservarem essa Palavra, era deles a responsabilidade de anunciarem essa Palavra às nações. É por isso que Paulo diz que era grande a vantagem dos judeus. Mesmo que alguns deles tivessem sido incrédulos, isso não mudou a fidelidade de Deus a eles (v.3), porque os judeus que cressem seriam, agora, integrados à Igreja, a qual por sua vez tem em suas mãos o reconhecimento do cânon neotestamentário.

Então, o resumo da ópera é o seguinte:

• Os judeus recebem as Escrituras no tempo do Antigo Testamento.

• A Igreja recebe as Escrituras no tempo do Novo Testamento.

• Os judeus tem a responsabilidade de reconhecer o cânon do Antigo Testamento.

• A Igreja tem a responsabilidade de reconhecer o cânon do Novo Testamento.

Isso parece estar bem claro. Agora, resta descobrirmos qual é esse cânon reconhecido pelos judeus.


O CÂNON DOS JUDEUS

Em Josefo

Embora os católicos afirmem que os judeus não tinham um cânon fixo ou tivessem diferentes listas de livros inspirados, isso é refutado tanto pela tradição judaica como pela história cristã. Isso porque, em primeiro lugar, Flávio Josefo (37-100 d.C) deixa claro que havia um concenso entre os judeus de que não havia nem mais e nem menos que 22 livros aceitos por todos eles:  

“Não há pois entre nós milhares de livros em desacordo e em mútua contradição, mas há sim, apenas vinte e dois livros que contêm a relação de todo o tempo e que com justiça são considerados divinos. Destes, cinco são de Moisés, e compreendem as leis e a tradição da criação do homem até a morte de Moisés. Este período abarca quase três mil anos. Desde a morte de Moisés até a de Artaxerxes, rei dos persas depois de Xerxes, os profetas posteriores a Moisés escreveram os fatos de suas épocas em treze livros. Os outros quatro contêm hinos em honra a Deus e regras de vida para os homens. Desde Artaxerxes (sucessor de Xerxes) até nossos dias, tudo tem sido registrado, mas não tem sido considerado digno de tanto crédito quanto aquilo que precedeu a esta época, visto que a sucessão dos profetas cessou. Mas a fé que depositamos em nossos próprios escritos é percebida através de nossa conduta; pois, apesar de ter-se passado tanto tempo, ninguém jamais ousou acrescentar coisa alguma a eles, nem tirar deles coisa alguma, nem alterar neles qualquer coisa que seja”[2]

O número 22 deve-se ao fato de que os hebreus contavam os livros dos profetas menores como sendo um só[3], assim como Jeremias com Lamentações, os dois primeiros livros dos Reis também são listados como um só livro, o terceiro e o quarto também (eles consideravam 1ª e 2ª Samuel como fazendo parte do livro dos Reis), assim como 1ª e 2ª Crônicas também são listados como um só livro, fazendo assim com que os livros aceitos pelos judeus fossem os mesmos livros aceitos hoje pelos evangélicos, sem nenhum apócrifo católico.

É digno de nota que Josefo reconhece que livros foram escritos desde Artaxerxes (no período interbíblico em que os livros apócrifos foram escritos), mas diz que não foram reconhecidos como dignos de crédito como aqueles livros que precederam aquela época, e por uma razão simples: a sucessão dos profetas havia cessado. Portanto, os judeus consideravam como canônicos apenas aqueles 22 livros equivalentes aos 39 nas Bíblias protestantes do Antigo Testamento, sem nenhum livro que fosse posterior ao período de Artaxerxes.

Também é notável que ele tenha dito que ninguém jamais ousou acrescentar coisa alguma a eles, o que seria falso caso os judeus tivessem diversos cânones bíblicos diferentes, cada qual para cada grupo judaico. O “ninguém”, neste caso, perderia completamente o sentido. Parece estar claro que, para Josefo (um judeu do primeiro século), os judeus estavam em concordância entre si em relação aos livros considerados inspirados. Não havia ninguém que discordasse dos 22 livros, que cresse que a sucessão dos profetas não havia cessado ou que tivesse ousado acrescentar ou retirar qualquer livro.


Nos Pais da Igreja

Os Pais da Igreja também nos ajudam a concluir que o cânon judaico era unificado e fixo. Isso porque nunca qualquer Pai da Igreja ousou dizer que existia mais de um cânon judaico, mas todos eles disseram bem claramente que os judeus, como um todo, aceitavam a inspiração dos mesmos 22 livros mencionados por Josefo. E sempre que eles mencionaram quais eram esses livros, eles listavam exatamente os mesmos do cânon protestante. Vejamos o que alguns deles disseram:

Orígenes (185 – 253 d.C)

“Não se pode ignorar que os livros testamentários, tal como os transmitiram os hebreus, são vinte e dois, tantos como o número de letras que há entre eles’. Logo, depois de algumas frases, continua dizendo: ’Os vinte e dois livros, segundo os hebreus, são estes: o que entre nós se intitula Gênesis, e entre os hebreus Bresith, pelo começo do livro, que é: No princípio; Êxodo, Ouellesmoth, que significa: Estes são os nomes; Levítico, Ouikra: E chamou; Números, Ammesphekodeim; Deuteronômio, Elleaddebareim: Estas são as palavras; Jesus, filho de Navé, Josuebennoun; Juízes e Rute, para eles um só livro: Sophtein; I e II dos Reis, um só para eles: Samuel, O eleito de Deus; III e IV dos Reis, em um: Ouammelchdavid, que significa Reino de Davi; I e II dos Paralipômenos, em um: Dabreiamein, isto é: Palavras dos dias; I e II de Esdras em um: Ezra, ou seja, Ajudante; Livro dos Salmos, Spharthelleim; Provérbios de Salomão, Meloth; Eclesiastes, Koelth; Cantar dos Cantares (e não, como pensam alguns, Cantares dos cantares), Sirassireim; Isaías, Iessia; Jeremias, junto com as Lamentações e a Carta, em um: Ieremia; Daniel, Daniel; Ezequiel, Iezekiel; Jó, Iob; Ester, Esther”[4]

Atanásio (295-373 d.C)

“Há, portanto, 22 livros do Antigo Testamento, número que, pelo que ouvi, nos foram transmitidos, sendo este o número citado nas cartas entre os hebreus, sendo sua ordem e nomes respectivamente, como se segue: Primeiro, o Gênesis. Depois, o Êxodo. Depois, o Levítico. Em seguida, Números e, por fim, o Deuteronômio. Após esses, Josué, o filho de Nun. Depois, os Juízes e Rute. Em seguida, os quatro Livros dos Reis, sendo o primeiro e o segundo listados como um livro, o terceiro e o quarto também, como um só livro. Em seguida, o primeiro e o segundo Livros das Crônicas, listados como um só livro. Depois, Esdras, sendo o primeiro e o segundo igualmente listados num só livro. Depois desses, há o Livro dos Salmos, os Provérbios, o Eclesiastes e o Cântico dos Cânticos. O Livro de Jó. Os doze Profetas são listados como um livro. Depois Isaías, um livro. Depois, Jeremias com Baruc, Lamentações e a Carta [de Jeremias], num só livro. Ezequiel e Daniel, um livro cada. Assim se constitui o Antigo Testamento”[5]

Hilário de Poitiers (300-368 d.C)

“A lei do Velho Testamento é reconhecida em vinte e dois livros, de forma que eles se enquadram no número de letras hebraicas. Eles são contados de acordo com a tradição dos antigos pais, de forma que aqueles de Moisés são cinco livros; o sexto de Josué; o sétimo de Juízes e Rute; o oitavo do primeiro e segundo de Reis; o décimo dos dois livros chamados Crônicas; o décimo primeiro de Esdras (onde Neemias estava compreendido); o livro de Salmos fazendo o décimo segundo; os Provérbios de Salomão, Eclesiastes e o Cântico dos Cânticos, fazendo o décimo terceiro, décimo quarto e décimo quinto; os doze profetas fazendo o décimo sexto; então Isaías e Jeremias, juntos com suas Lamentações e sua Epístola, (agora o vigésimo nono capítulo de sua profecia) Daniel, e Ezequiel, e Jó, e Ester, fazendo o número completo de vinte e dois livros”[6]

Jerônimo (300-368 d.C)

“As histórias de Susana e de Bel e o Dragão não estão contidas no hebraico... Por isso, quando traduzia Daniel muitos anos atrás, anotei essas visões com um símbolo crítico, demonstrando que não estavam incluídas no hebraico... Afinal, Orígenes, Eusébio e Apolinário e outros clérigos e mestres distintos da Grécia reconhecem que, como eu disse, essas visões não se encontram no hebraico, e portanto não são obrigados a refutar Porfírio quanto a essas porções que não exibem nenhuma autoridade de Escrituras Sagradas”[7]

“E assim há também vinte e dois livros do Antigo Testamento; isto é, cinco de Moisés, oito dos profetas, nove dos hagiógrafos, embora alguns incluam Ruth e Kinoth (Lamentações) entre os hagiógrafos, e pensam que estes livros devem contar-se por separado; teríamos assim vinte e quatro livros da Antiga Lei”[8]

“Este prólogo, como vanguarda (principium) com capacete das Escrituras, pode ser aplicado a todos os Livros que traduzimos do Hebraico para o Latim, de forma que nós podemos garantir que o que não é encontrado em nossa lista deve ser colocado entre os escritos apócrifos. Portanto, a sabedoria comumente chamada de Salomão, o livro de Jesus, filho de Siraque [Eclesiástico], e Judite e Tobias e o Pastor [supõe-se que seja o Pastor de Hermas], não fazem parte do cânon. O primeiro livro dos Macabeus eu não encontrei em hebraico, o segundo é grego, como pode ser provado de seu próprio estilo”[9]

Basílio, o Grande (329-379 d.C)

“Como estamos lidando com números e cada número entre reais existências, um certo significado do qual o Criador do universo fez uso completo tanto no esquema geral como no arranjo dos detalhes, nós devemos dar boa atenção e com a ajuda das Escrituras traçar seu significado e o significado de cada um deles. Nem devemos falhar em observar que não é sem razão que os livros canônicos são vinte e dois, de acordo com a tradição hebraica, o mesmo número das letras do alfabeto hebraico. Pois como as vinte e duas letras podem ser consideradas uma introdução à sabedoria e às divinas doutrinas dadas aos homens naquelas letras, assim os vinte e dois livros inspirados são o alfabeto da sabedoria de Deus e uma introdução ao conhecimento das realidades”[10]

Gregório Nazianzeno (329-389 d.C)

“Receba o número e nome dos livros sagrados. Primeiro os doze livros históricos em ordem: primeiro é Gênesis, então Êxodo, Levítico, Números e o testamento da lei repetido de novo; Josué, Juízes e Rute a moabita seguem estes; depois disto os famosos feitos dos Reis possuem o nono e décimo lugar; as Crônicas veem no décimo primeiro lugar e Esdras é o último. Há também cinco livros proféticos, primeiro dos quais é Jó, o próximo é o do Rei Davi, e três de Salomão, a saber, Eclesiastes, Provérbios e seu Cântico. Depois deste vem cinco livros dos santos profetas, dos quais doze estão contidos em um volume: Oseias... Malaquias, estes estão no primeiro livro; o segundo contém Isaías. Depois destes está Jeremias, chamado do ventre de sua mãe, então Ezequiel, força do Senhor e Daniel por último. Estes vinte e dois livros do Velho Testamento são contados de acordo com as vinte e duas letras dos judeus... Que sua mente não seja enganada sobre livros estranhos, pois várias falsas atribuições estão circulando, mas você deve manter este número legítimo de mim, querido leitor”[11]

João Damasceno (675-749 d.C)

“Observa-se, ainda, que há vinte e dois livros do Antigo Testamento, um para cada letra do alfabeto hebraico. Há vinte e dois livros, dos quais cinco são duplos, e assim eles passam a ser vinte e sete. Pois as letras Caph, Mem, Nun, Pe e Sade são duplas. E, assim, o número de livros desta forma é vinte e dois, mas são encontrados vinte e sete por causa do duplo caractere de cinco. Pois Rute se une com Juízes, o primeiro e segundo livro de Reis são contados como um livro, assim como o terceiro e quarto livro dos Reis, e também o primeiro e segundo livro das Crônicas e primeiro e segundo de Esdras. Desta forma, os livros são reunidos em quatro Pentateucos e dois outros permanecem sobre eles, para formar, assim, os livros canônicos. Cinco deles são da Lei: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Este é o código da Lei, constituindo o primeiro Pentateuco. Em seguida, vem outro Pentateuco, o chamado Grapheia, ou, como são chamados por alguns, o Hagiographa, que são os seguintes: Josué, Juízes juntamente com Rute, primeira e segunda Reis, que são um livro, terceiro e quarta Reis, que são um livro, e os dois livros das Crônicas que são um só livro. Este é o segundo Pentateuco. O terceiro Pentateuco são os livros em versos: Jó, Salmos, Provérbios de Salomão, Eclesiastes de Salomão e o Cântico dos Cânticos, de Salomão. O quarto Pentateuco são os chamados livros proféticos, a saber os doze profetas constituem um livro. Em seguida temos Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel. Depois, vêm os dois livros de Esdras como um só, e Ester. Há também a Sabedoria de Salomão e a Sabedoria de Josué [=Eclesiástico], que foi publicado em hebraico pelo pai de Siraque, e posteriormente traduzido para o grego por seu neto, Josué, o filho de Siraque. Estes são nobres e virtuosos,mas não são contados e nem foram admitidos no cânon”[12]

Como podemos ver, era unaminidade entre os Pais da Igreja que os hebreus tinham um cânon de vinte e dois livros veterotestamentários, que é o mesmo correspondente aos 39 livros presentes nas Bíblias evangélicas. Não há nem sequer um único deles que tenha dito que os hebreus tinham cânones diferentes, que tinham mais de 22 ou menos de 22 livros. Isso era tão certo na antiguidade que estava longe de ser um ponto de discussão. Até mesmo Agostinho (354-430 d.C), que foi o primeiro Pai da Igreja a atribuir canonicidade aos apócrifos por causa dos relatos de martírios[13], reconheceu que os judeus não os aceitavam em seu cânon:

“Desde este tempo, quando o templo foi reconstruído, até o tempo de Aristóbulo, os judeus não tiveram reis, mas príncipes, e cálculo de suas datas não é encontrado nas Sagradas Escrituras que são chamadas canônicas, mas em outros, entre os quais estão também os livros dos Macabeus. Estes são tidos como canônicos, não pelos judeus, mas pela Igreja, por conta dos sofrimentos extremos e maravilhosos de certos mártires, que, antes de Cristo vir em carne, sustentaram a lei de Deus até a morte, e suportaram males mais graves e horríveis”[14]

Portanto, até mesmo Agostinho, que foi o primeiro Pai da Igreja a conceder deuterocanonicidade aos apócrifos, reconhecia que os judeus rejeitavam estes livros. A ideia de que os judeus não tinham um cânon definido ou que tinham vários é uma invenção recente, apelativa e que desmente dois milênios de história. Até pouco tempo atrás era incontestável o fato de que os hebreus tinham o mesmo cânon (definido) dos evangélicos; porém, ao se depararem com o peso dos argumentos, não tiveram outra escolha que não fosse o sacrifício da verdade para salvar seus próprios dogmas inconsistentes.


OS SADUCEUS TINHAM UM CÂNON DIFERENTE?

É alegado por tais sofistas que os fariseus tinham o cânon de 22 livros, mas os saduceus tinham um cânon menor, com apenas 5 livros, o nosso Pentateuco, pois supostamente eles rejeitavam toda revelação posterior. Por mais que esse mito tenha sido amplamente difundido, ele não possui qualquer base histórica sólida ou minimamente consistente. Não existe nenhuma fonte judaica antiga que afirme isso. O mais próximo é Josefo, que disse que eles deviam obediência à Torá, mas não diz que eles rejeitavam os demais livros.

Considerar livros mais importantes do que outros é completamente diferente de rejeitar os demais livros. Eu mesmo considero o Evangelho de João muito mais importante do que o Cântico dos Cânticos, mas isso não significa que eu considero Cantares um livro não-canônico. Da mesma forma, os saduceus pensavam que tudo o que tinha de ordenanças no Antigo Testamento estava na Lei. Os livros Proféticos eram uma fonte histórica e um atestado da idolatria e desvio do povo israelita, eram considerados canônicos, mas sem nada a acrescentar em termos de ordenanças que já não tivesse sido expressamente dito na Lei.

Quando eu pedi para meu oponente dizer o porquê que ele achava que os saduceus tinham um cânon diferente, ele simplesmente alegou que eles rejeitavam a ressurreição da carne, e, consequentemente, teriam que rejeitar toda a revelação posterior, já que o Antigo Testamento fala expressamente em ressurreição (Dn.12:2; Is.26:19). A resposta a isso é muito simples: até hoje há muitos cristãos que creem em toda a Bíblia, até mesmo no Novo Testamento, e negam a ressurreição da carne.

Os pós-milenistas, que são adeptos do preterismo completo, analisam de forma espiritual todas as passagens bíblicas (do AT e do NT) que falam em ressurreição. Para eles, não existe ressurreição física, mas meramente ressurreição espiritual, e eles alegorizam ao máximo todas as passagens que parecem dizer explicitamente o contrário – mesmo que para isso tenham que corromper todos os métodos conhecidos de exegese.

Se hoje em dia há cristãos que com toda a revelação do NT (que fala constantemente em ressurreição) não creem em ressurreição da carne – mesmo crendo na canonicidade de todos os livros bíblicos – então por que os saduceus, que criam somente no AT (que fala muito menos de ressurreição do que o NT) teriam que descrer na canonicidade de tais livros para descrer na ressurreição? Isso não era nem um pouco necessário para eles, bastava alegorizar tais versos, como fazem os pós-milenistas hoje. Portanto, a crença de que os saduceus tinham um cânon menor é fruto de um non sequitur. Lucas, o evangelista, no livro de Atos deixa implícito que não havia nenhuma discussão entre os saduceus e os fariseus quando o assunto era o cânon:

“Dizendo isso, surgiu uma violenta discussão entre os fariseus e os saduceus, e a assembléia ficou dividida. Os saduceus dizem que não há ressurreição nem anjos nem espíritos, mas os fariseus admitem todas essas coisas” (Atos 23:7-8)

Notem que as divergências entre fariseus e saduceus eram sobre:

Ressurreição da carne.
Existência de anjos.
Existência de espíritos.

Não há qualquer sinal ou evidência de que eles também tinham divergência sobre o cânon judaico. Se eles se contrariavam nisso também, seria algo da maior importância (até mais do que essas três divergências listadas) e certamente Lucas não hesitaria em mencionar. Mas a total omissão de Lucas quanto a uma divergência sobre o cânon nos mostra que eles não discutiam sobre isso, pois não era um ponto de divergência entre eles. Nem mesmo Josefo, que disse que ninguém cria diferente sobre o cânon, alguma vez fez menção a um cânon limitado dos saduceus. Assim, é totalmente verdadeiro aquilo que W.J. Moulder disse em sua “International Standard Bible Encyclopedia”:

“Durante o período intertestamentário estes escritos eram considerados como Escrituras por todos os judeus, já que nem Josefo nem o NT dizem nada sobre os saduceus rejeitarem estas porções da Escritura”[15]


OS ALEXANDRINOS TINHAM UM CÂNON DIFERENTE?

De todas as alegações romanistas, a de que existia um “cânon alexandrino” é a mais hilária e digna de descrédito. Nunca alexandrino algum disse que eles tinham um cânon em particular ao da palestina. Os católicos até hoje nunca foram capazes de mostrar qualquer documento antigo de qualquer judeu alexandrino ou palestino que fosse testemunha de que existia um cânon em Alexandria e outro cânon na Palestina. Nem mesmo Filon de Alexandria (20 a.C – 50 d.C) disse que existia um cânon de Alexandria. Na verdade, ele nunca nem ao menos chegou a citar qualquer livro apócrifo!

Então, de onde provém esse mito de que em Alexandria existia um cânon distinto do aceito entre os judeus? Da Septuaginta. A Septuaginta é uma tradução para o grego feita em Alexandria por setenta rabinos, entre o terceiro e o primeiro século a.C. Ocorre que na Septuaginta os livros apócrifos estavam inclusos. Então, o católico chega à “conclusão” de que aqueles rabinos criam na canonicidade daqueles livros, e, consequentemente, que eles tinham um cânon distinto do da Palestina, com mais livros.

Isso é simplesmente falso. Nem mesmo as primeiras versões da Bíblia feitas pelos Reformadores, como Lutero, excluíam os apócrifos. Eles não criam na canonicidade de tais livros, mas os tinham na Bíblia como livros eclesiásticos, para mera edificação, e não como livros canônicos, para definição de doutrina. Tal também era a distinção feita claramente por Jerônimo, que incluiu os apócrifos na Vulgata, mas disse claramente que tais livros não eram canônicos e não podiam fundamentar doutrina:

“E assim da mesma maneira pela qual a igreja Judite, Tobias e Macabeus (no culto público) mas não os recebe entre as Escrituras canônicas, assim também sejam estes dois livros [Sabedoria e Eclesiástico] úteis para a edificação do povo, mas não para estabelecer as doutrinas da Igreja[16]

“Este prólogo, como vanguarda (principium) com capacete das Escrituras, pode ser aplicado a todos os Livros que traduzimos do Hebraico para o Latim, de forma que nós podemos garantir que o que não é encontrado em nossa lista deve ser colocado entre os escritos apócrifos. Portanto, a sabedoria comumente chamada de Salomão, o livro de Jesus, filho de Siraque [Eclesiástico], e Judite e Tobias e o Pastor [supõe-se que seja o Pastor de Hermas], não fazem parte do cânon. O primeiro livro dos Macabeus eu não encontrei em hebraico, o segundo é grego, como pode ser provado de seu próprio estilo”[17]

“Para os católicos, os apócrifos são certos livros antigos, semelhantes a livros bíblicos, quer do N.T, quer do V.T, o mais das vezes atribuídos a personagens bíblicos, mas não inspirados, como os livros canônicos, e nem escritos por pessoas fidedignas nem de doutrina segura”[18]

Portanto, vejamos o quadro:

A Bíblia dos Reformadores tinham os apócrifos, mas nenhum Reformador os considerava canônicos ou inspirados.

A Vulgata de Jerônimo tinha os apócrifos, mas Jerônimo não os considerava canônicos ou inspirados.

Então, por que raios que os alexandrinos tinham que considerar canônicos e inspirados os livros apócrifos só porque eles a colocaram na Septuaginta?

E para calar de uma vez por todas com qualquer possibilidade de objeção da parte deles, vamos mostrar a eles quais eram os livros que estavam nos diferentes códices da Septuaginta:

Códice Alexandrino (A)
Códice Vaticano (B)
Códice Sinático (Alef)
Baruque, Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico, 1 Esdras3 e 4 Macabeus1 e 2 ClementeSalmos de Salomão
Sabedoria, Eclesiástico, Judite, Tobias, Baruque, 1 Esdras
Tobias, Judite, 1 Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico, 4 MacabeusEpístola de BarnabéO Pastor de Hermas

Os livros em destaque (em vermelho) são livros presentes nestes códices da Septuaginta, mas nunca presentes nas Bíblias católicas. Se os católicos apelarem para o Códice Alexandrino, terão que conceder canonicidade também aos apócrifos de 1ª Esdras, 3ª e 4ª Macabeus, 1ª e 2ª Clemente e aos Salmos de Salomão. Se eles apelarem ao Códice Vaticano, terão que conceder canonicidade ao apócrifo de 1ª Esdras e também excluir os dois livros dos Macabeus, pois não constam neste códice. E se apelarem para o Códice Sinático, terão que incluir em suas Bíblias os apócrifos de 4ª Macabeus, a Epístola de Barnabé e o Pastor de Hermas, além de excluírem de suas Bíblias os livros de Baruque e 2ª Macabeus, que não estão neste códice. Ou seja: de um jeito ou de outro, estão perdidos.



JÂMNIA NÃO REITEROU; JÂMNIA INOVOU

Essa acusação é mais uma na qual os católicos não têm qualquer prova, a não ser um artigo infame da toda-poderosa Wikipédia que afirma isso, a qual não permite que nenhum evangélico atualize, pois parece ser monopolizada por eles. É interessante que a Wikipédia em inglês, a qual parece ser mais imparcial, afirma justamente o contrário! Ela mostra eruditos no assunto, como Albert C. Sundberg Jr, que afirmou:

“Jewish sources contain echoes of debate about biblical books but canonicity was not the issue and debate was not connected with Jabneh... Moreover, specific canonical discussion at Jabneh is attested only for Chronicles and Song of Songs. Both circulated prior to Jabneh. There was vigorous debate between Beth Shammai and Beth Hillel over Chronicles and Song; Beth Hillel affirmed that both "defile the hands." One text does speak of official action at Jabneh. It gives a blanket statement that ‘all Holy Scripture defile the hands’, and adds ‘on the day they made R. Eleazar b. Azariah head of the college, the Song of Songs and Koheleth (Ecclesiastes) both render the hands unclean’ (M. Yadayim 3.5). Of the apocryphal books, only Ben Sira is mentioned by name in rabbinic sources and it continued to be circulated, copied and cited. No book is ever mentioned in the sources as being excluded from the canon at Jabneh”[19]

Ela ainda termina afirmando que a teoria católica (de que um cânon foi definido em Jâmnia, e não meramente sido reiterado) é hoje “largamente desacreditada” entre os estudiosos sérios. Um artigo completo em inglês de Albert C. Sundberg Jr pode ser visto clicando aqui. O fato é que os católicos não possuem uma única fonte judaica anterior a Jâmnia com uma lista de livros diferentes. Nenhuma delas apresenta mais de 22 livros ou menos de 22 livros. Josefo, um judeu, escreveu antes de Jâmnia e confirmou que ninguém acrescenta ou retira nada dessa quantidade de livros já aceitos na época dele:

“Não há pois entre nós milhares de livros em desacordo e em mútua contradição, mas há sim, apenas vinte e dois livros que contêm a relação de todo o tempo e que com justiça são considerados divinos. Destes, cinco são de Moisés, e compreendem as leis e a tradição da criação do homem até a morte de Moisés. Este período abarca quase três mil anos. Desde a morte de Moisés até a de Artaxerxes, rei dos persas depois de Xerxes, os profetas posteriores a Moisés escreveram os fatos de suas épocas em treze livros. Os outros quatro contêm hinos em honra a Deus e regras de vida para os homens. Desde Artaxerxes (sucessor de Xerxes) até nossos dias, tudo tem sido registrado, mas não tem sido considerado digno de tanto crédito quanto aquilo que precedeu a esta época, visto que a sucessão dos profetas cessou. Mas a fé que depositamos em nossos próprios escritos é percebida através de nossa conduta; pois, apesar de ter-se passado tanto tempo, ninguém jamais ousou acrescentar coisa alguma a eles, nem tirar deles coisa alguma, nem alterar neles qualquer coisa que seja”[20]

Se Josefo tivesse escrito depois de Jâmnia, até poderíamos pensar que ele escreveu depois deste concílio e por isso escreveu tais coisas com tanta segurança, mas sabemos que ele escreveu décadas antes, por volta da década de 60-70 d.C, e o Concílio de Jâmnia só existiu a partir do final do primeiro século d.C (90 d.C) e início do segundo. Portanto, Josefo é prova incontestável de que Jâmnia não acrescentou nem retirou livro nenhum para chegarmos aos 22, pois ele já mostra estes 22 décadas antes! William Webster também escreveu um excelente artigo sobre isso, que vocês podem acompanhar em português clicando aqui. Ele passa muitas citações rabínicas e históricas com várias fontes documentais dos primeiros séculos que destroem a lenda romanista de que o cânon hebreu só foi definido em Jâmnia. Jâmnia não inovou; Jâmnia apenas reiterou aquilo que já era de aceitação geral entre os hebreus da época de Cristo!


OS JUDEUS ATUAIS NÃO TÊM CÂNON

Depois de todos os seus argumentos tradicionais fracassarem miseravelmente, eles apelam para uma última carta na manga: os judeus atuais. Jorge Luiz afirmou reiteradas vezes que conversou com um rabino que lhe informou que os judeus atuais não têm um cânon de 22 livros, mas aceitam meramente o Pentateuco e o Talmude. Ele desafiou a perguntar a outros judeus se eles confirmam isso ou não. Depois disso eu mandei vários e-mails a judeus e a comunidades judaicas, poucos responderam, mas todos os que responderam confirmaram o cânon de 22 livros, que é o equivalente aos 39 livros do Antigo Testamento protestante.

Um outro debatedor acrescentou também que os judeus ortodoxos publicaram pela “Livraria e Editora Sêfer Ltda” o Tanakh, intitulado “Bíblia Hebraica”, com os seguintes livros:

A. Torah - Lei:

1. Bereshît (Gênesis);
2. Shemot (Êxodo);
3. Vaiqra' (Levítico);
4. Bamidbar (Números);
5. Debarim (Palavras; Deuteronômio).

B. Nebiîm - Profetas:

1. Yehoshua (Josué);
2. Shofetim (Juízes);
3. Shemu'el Alef (1Samuel);
4. Shemu'el Bet (2Samuel);
5. Melakhim Alef (1Reis);
6. Melakhîm Bet (2Reis);
7.Yesha'yahu (Isaias);
8. Yermyahu (Jeremias);
9. Yekhezq'el (Ezequiel);

Os Doze (Shenem Assar):
10. Hoshea (Oséias);
11. Yo'el (Joel);
12. 'Amós (Amós);
13. 'Obadiáh (Obadias);
14.Yonáh (Jonas);
15. Mikhah (Miquéias);
16. Nahum (Naum);
17. Khabaquq (Habacuque);
18. Tsefaniah (Sofonias);
19. Hagay (Ageu);
20. Zekhariah (Zacarias);
21. Mala'khy (Malaquias).

C. Ketubym - Escritos:

1. Tehilim (Salmos);
2. Mishlê (Provérbios);
3. 'Yob (Jó);
4. Shir Hashirim (Cântico dos Cânticos);
5. Rut (Rute);
6. 'Ekhah (Lamentações);
7. Qohelet (Eclesiastes);
8. 'Ester (Ester);
9. Dani'el (Daniel);
10. 'Ezrá' (Esdras);
11. Nekhemiah (Neemias);
12. Dibrê Haiamim Álef (1Crônicas);
13. Dibrê Haiamim Bet (2Crônicas).

Como se pode ver, nenhum dos livros apócrifos ocupa lugar algum entre a "Torah, Nebiim, e Ketubim" da Bíblia Hebraica, mostrando que eles de fato aceitam todos os livros dos evangélicos e rejeitam os apócrifos adicionados pelos católicos. Mas, ainda que haja um judeu atual (ou judeus, no plural) que não creia na inspiração e canonicidade dos 22 livros, eu tenho que perguntar: E daí? Isso muda alguma coisa da crença judaica da época de Cristo? É claro que não. Elisson Freire (dono do site Firme Fundamento) lhe deu uma excelente resposta:

“Engraçado, tais rabinos que você cita estão atrasados em uns 2000 anos para acharem que podem revisionar alguma coisa. Já lhe disse, a opinião de grupos separatistas de hoje não é mais válida, nem de modernistas. Seu suposto argumento é o mesmo que a Igreja, daqui 500 anos, decidir ter apenas os 4 evangelhos como canônicos e rejeitar os outros 23 livros! Entende a falha em tal alegação? Ainda bem que você mesmo afirma que tal argumento é fruto de conversas com rabinos de hoje!”

Em resumo, nenhum judeu tem autoridade hoje para sair por aí mutilando a Bíblia e aumentando ou diminuindo o cânon. O que é válido é o cânon que existia na época de Jesus, e esse cânon, como já vimos, era o de 22 livros. Se um judeu maluco ou um grupo separatista decidir sair por aí arrancando livros da Bíblia e adicionando outros, é um problema deles. Se eles perderam a conexão com os antigos judeus e com o cânon da era apostólica, nós não temos nada a ver com isso. Nenhum desses pobres argumentos refutam qualquer coisa acerca do cânon hebraico veterotestamentário da época de Jesus, que é o que deve ser observado por todos nós hoje, no concernente ao Antigo Testamento.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)


-Meus livros:

-Veja uma lista completa de livros meus clicando aqui.

- Acesse o meu canal no YouTube clicando aqui.


-Não deixe de acessar meus outros sites:
Apologia Cristã (Artigos de apologética cristã sobre doutrina e moral)
O Cristianismo em Foco (Reflexões cristãs e estudos bíblicos)
Estudando Escatologia (Estudos sobre o Apocalipse)
Desvendando a Lenda (Refutando a Imortalidade da Alma)
Ateísmo Refutado (Evidências da existência de Deus e veracidade da Bíblia)





[1]Outros católicos também participaram do debate, mas estes outros trouxeram argumentos tão pífios e tão ridículos que eu considero indignos de sequer serem citados aqui.
[2]Josefo, Contra Apião. Citado em “História Eclesiástica” (Eusébio de Cesareia), Livro III, 10:1-6.
[3]Atanásio, Epístola 39, Cap.4; Militão de Sardes, em HE, Livro IV, Cap.26, v.12-14.
[4]Conservado em “História Eclesiástica”, Livro VI, 25:1-2.
[5] Epístola 39, Cap.4.
[6] Sancti Hilarii Pictaviensis Episcopi Tractatus Super Psalmos, Prologue 15, Testamenti Veteris libri XXII, aut 24. Tres linguae praecipuae. PL 9:241.
[7] Prólogo do Comentário sobre Daniel, p.15.
[8] Prefácio aos Livros de Samuel e Reis. Em Nicene and Post-Nicene Fathers, 2nd Series, vol. 6, p. 489-490.
[9] Prologus Galeatus.
[10] Philocalia, Cap.3.
[11] Carmina Dogmática, Livro I, Seção I, Carmen XII. PG 37:471-474.
[12] An Exposition of the Orthodox Faith, Livro IV, Cap.17.
[13]Como podemos ver no texto, o argumento que Agostinho dá para a inclusão dos apócrifos no cânon é em função dos relatos de martírios, o que é um argumento tão raso que Norman Geisler comentou: “Por essa ótica, o ‘Livro dos Mártires’ de John Foxe (1517-1587) deveria estar no cânon”. Foi por causa da opinião particular de Agostinho que os apócrifos foram aceitos nos sínodos locais de Hipona (393 d.C) e Cartago (397 d.C), onde Agostinho exercia jurisdição. Mesmo assim, como esses sínodos eram locais e não universais, a grande maioria dos doutores da Igreja que viveram depois de Agostinho seguiram Jerônimo e não Agostinho neste ponto, rejeitando sumariamente a canonicidade de tais livros. O cardeal Caetano (1469-1534), por exemplo, em seu “Comentário sobre a Epístola aos Hebreus”, afirmou: “Já que recebemos a regra de Jerônimo, não erremos na separação dos livros canônicos (pois aqueles que ele entregou como canônicos os sustentamos como tais, e aqueles que ele separou dos livros canônicos os consideramos fora do cânon)”.
[14] Cidade de Deus 18,36.
[15] W.J. Moulder, Sadducees. Em Geoffrey W. Bromiley (Ed.), International Standard Bible Encyclopedia, Rev. Ed. Grand Rapids: W.B. Eerdmans, 1988; 4:279.
[16] Prefácio dos Livros de Salomão.
[17] Prologus Galeatus.
[18] Introdução Geral a Vulgata Latina, p.9.
[19] “The Old Testament of the Early Church”, Revisited 1997.
[20]Josefo, Contra Apião. Citado em “História Eclesiástica” (Eusébio de Cesareia), Livro III, 10:1-6.

Comentários

  1. Lucas permita-me que faça uma correção. O que você cita como sendo de Le Déaut é na verdade da International Standard Bible Encyclopedia na entrada Sadducees, escrito por W.J. Moulder,

    A referência é esta:

    W.J. Moulder, Sadducees. Em Geoffrey W. Bromiley (Ed.), International Standard Bible Encyclopedia, Rev. Ed. Grand Rapids: W.B. Eerdmans, 1988; 4:279; negrito acrescentado.

    Josefo indicou que os saduceus não concediam autoridade vinculante à lei oral porque «não está registada nas leis de Moisés» (Ant. XIII, 10:6 [297]). Os fariseus, em contraste, afirmavam que as ...«tradições dos anciãos» remontavam até ao próprio Moisés e eram portanto obrigatórias. Até que ponto a rejeição saduceia da tradição oral se estendia até a negação do status canónico dos Profetas e Escritos veterotestamentários (como afirmavam vários Padres; por exemplo Hipólito, Ref. IX,29; Orígenes Contra Celso 1,49; Jerónimo In Matt 22:31s...) é outro assunto, no entanto, já que durante o período intertestamentário estes escritos eram considerados como Escrituras por todos os judeus. Já que nem Josefo nem o NT dizem nada sobre os saduceus rejeitarem estas porções da Escritura, a maior parte dos eruditos modernos crê que os Padres estavam num erro.

    Não precisa publicar este comentário, é só mesmo para corrigir

    :)

    ResponderExcluir
  2. Mais uma vez um ótimo texto. Bem explicado e colocando os principais argumentos de alguns católicos em pauta, me deu ótimos argumentos para serem usados nos meus debates.

    Além do mais, ocorreu algo ainda mais incrível.

    Eu e uma pessoa muito importante começamos um debate sobre o cannon e este texto caiu exatamente em boa hora (me pareceu mais providência divina).

    Agradeço novamente e continue postando seus ótimos textos.

    Se possível, agradeceria que vc pudesse me orientar nos posts que vc possui sobre o cannon bíblico.

    Jonas

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado novamente e se eu tiver pergunta vou se interrogar novamente kkkkk

      Fica com Deus

      Jonas Ewerton

      Excluir
    2. Bem, me surgiu uma dúvida.

      Você possui algum artigo que cite a Santa Inquisição? Ou pretende fazer algum?

      Caso não, sabe algum livro interessante sobre o qual eu possa ler e contenha fontes sobre o assunto?

      Jonas Ewerton

      Excluir
    3. Olá, Jonas. Embora eu repudie completamente a inquisição, eu não costumo escrever sobre isso porque não envolve doutrina, e na minha opinião uma igreja é corrompida em função de falsos ensinos, a despeito de atos criminosos que possa ter cometido no passado. Aqui no blog eu apenas passei um vídeo (documentário) que aborda o assunto, se você quiser conferir:

      http://heresiascatolicas.blogspot.com.br/2012/09/a-santa-inquisicao_2562.html

      Há também um artigo do pastor Airton Evangelista da Costa que trata sobre isso:

      http://solascriptura-tt.org/IgrejasNosSeculos/InquisicaoNuncaMais-AECosta.htm

      E um do Elisson Freire sobre o mesmo tema:

      http://www.firmefundamento.com.br/index.php?pagina=1628310547_02

      Abraços.

      Excluir
  3. Se possível também, nos indica os grupos que vc costuma debater assunto religiosos no face para eu poder acompanhar ^^

    Jonas Ewerton

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu não costumo debater no facebook, exceto em raras ocasiões (como naquele debate sobre o cânon, onde me citaram), geralmente debates em redes sociais são mal moderados e permitem todas as formas de trolls possíveis e imagináveis, simplesmente não dá vontade de debater, é perda de tempo. Um grupo que eu participo (não é de debates) e onde posto algumas coisas lá de vez em quando é o "Cristãos e Reformados", se você quiser participar fique a vontade:

      https://www.facebook.com/groups/cristaosreformadosclassicos/

      Excluir
    2. Obrigado novamente!

      Jonas Ewerton

      Excluir
  4. Nossa, as coisas que você escreve são realmente muito boas, tenho lido todas, sempre que procuro alguma dúvida [geralmente "de fundo católico"] vejo que você tem um artigo sobre tal, pois há muitos assuntos complicados e difíceis. Muito obrigada pelos seus sites e esclarecimentos perfeitos!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu que agradeço o seu comentário e apoio, que Deus lhe abençoe!

      Excluir
  5. Lucas Banzoli, obrigado por "católico civilizado"; mas é Jorge Luis, com "S".

    Dê uma olhada nesse artigo, e uma coisa que te pergunto.

    Como resolver a a distorções em citações entre católicos e protestantes?

    Veja que é difícil irmão, e nisso dou um exemplo:

    Em debate no face com Luterano, brasileiro, que mora na Suécia, ele postou vários trechos dos pais sobre o cânon e coo eles negavam os 7 livros, beleza, depois mais de 45 minutos, pedindo, e pedindo ao mesmo que passasse as referencia dos textos, ele passou alguns, veja, fui procurar em sites internacionais e em inglês, e ATENÇÃO, sites protestantes, e minha surpresa foi que ou não existia citações nas ditas fontes, ou pelo contrário, as fontes dos entre aspas, ORIGINAIS, falavam o contrário, aludiam como sendo canônicos os 7 livros.

    Essa sua citação de Atanásio, onde pegou, não me refiro a fonte e sim o site, livro? Que está certo, a sua citação ou a dos católicos?

    Um abraço, e fique com Deus.

    http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/apologetica/deuterocanonicos/635-santo-atanasio-rejeitou-os-livros-deuterocanonicos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caro Jorge LuiS,

      Todas as fontes de patrística que eu uso são de sites CATÓLICOS, portanto você não precisa ficar preocupado não, relax.

      Como você insiste em querer links, a citação de Atanásio está neste site católico aqui:

      http://www.newadvent.org/fathers/2806039.htm

      Pax Domini.

      Excluir
  6. Bom dia, Lucas!

    Sobre o idioma de escrita do Novo Testamento, temos a certeza de que ele foi escrito em grego? Se vc puder dar uma olhada neste link:
    http://centrodeestudosprofeticos.com.br/index.php?option=com_k2&view=item&id=112:provas-que-o-novo-testamento--brit’hadashá--foi-escrito-em-hebraico-e-aramaico-e-não-do-grego&Itemid=165

    Deus lhe abençoe!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A teoria de que o NT foi escrito em aramaico ou hebraico é uma tese fracassada que não encontra amparo em nenhum erudito ou estudioso sério. Há muitíssimas razões para pensar que ele foi mesmo escrito em grego, a começar pelo fato óbvio de que um apóstolo como Paulo, que sabia grego (At.9:29), não iria escolher escrever em hebraico para comunidades cristãs na Ásia que falavam em grego. Seria como você saber inglês perfeitamente bem, escrever uma carta a um americano que só fala inglês, mas mesmo assim decidir escrever em português pra ele!

      Além disso, não existe um único manuscrito em hebraico do NT, contra pelo menos 5 mil em grego. A chance de que o original tenha sido escrito em hebraico é virtualmente de 5 mil a zero (contra). Mais informações sobre isso você pode encontrar aqui:

      http://solascriptura-tt.org/Seitas/Foi.NT.OriginalmenteEscritoHebraicoAramaico-PCristiano.htm

      Abs!

      Excluir
    2. Particularmente eu acho que foi escrito nas duas línguas. Acho bastante difícil imaginar Paulo escrevendo para a igreja de Corinto em grego, assim como acho difícil pensar que o autor de Hebreus escreveu esse mesmo livro originalmente em grego ou mesmo o original de Mateus ter sido escrito originalmente em grego. Até onde eu sei, existe um manuscrito muito antigo do livro de Mateus em aramaico ou algo parecido.

      Excluir
    3. Não existe esse tal manuscrito em aramaico de Mateus, o que existe são algumas citações de um ou outro Pai da Igreja que acreditava que existia um certo evangelho de Mateus escrito em aramaico, mas se este evangelho existiu mesmo ou não ninguém sabe, e NENHUMA cópia dele sobreviveu aos dias de hoje. Há inclusive a teoria hoje bastante aceita entre os acadêmicos de que Mateus escreveu um evangelho em aramaico e alguns anos depois ele próprio decidiu traduzir o mesmo evangelho em grego para levar o evangelho aos gentios também, e com o tempo só sobrou as cópias em grego. Mas dos outros livros do NT não existe qualquer evidência de que tenham sido escritos em dois idiomas e muito menos apenas em hebraico.

      Excluir
    4. Me permita corrigir meu comentário acima. Na verdade eu quis dizer que é difícil imaginar que Paulo escrevia à igreja de Corinto em hebraico. Mas se de fato Mateus tiver escrito o Evangelho em Aramaico, isso já é uma evidência, embora que mínima. Particularmente eu não creio que o NT tenha sido escrito todo em hebraico e nem totalmente em Grego. Se o evangelho de Mateus tiver sido o único, esse único já me impede de dizer que o NT foi escrito totalmente em grego.Acho muito improvável que algo nascido em um contexto Judaico e primeiramente para Judeus, tratando do Messias Judeu, não ter sido escrito primeiramente em Hebraico ou Aramaico mesmo que houvessem Judeus Helenizados. Abraço e continue com seus maravilhosos artigos!

      Excluir

Postar um comentário

ATENÇÃO: novos comentários estão desativados para este blog, mas você pode postar seu comentário em qualquer artigo do meu novo blog: www.lucasbanzoli.com