Qual discípulo era o maior?


Certa vez, os discípulos perguntaram a Jesus: “quem é o maior no reino dos céus” (Mt.18:1)? Que perfeita oportunidade para Cristo dizer que era Pedro! Mas Cristo não disse nada disso.

Em outra oportunidade, o Senhor Jesus perguntou aos discípulos:

“E chegou a Cafarnaum e, entrando em casa, perguntou-lhes: Que estáveis vós discutindo pelo caminho? Mas eles calaram-se; porque pelo caminho tinham disputado entre si qual era o maior. E ele, assentando-se, chamou os doze, e disse-lhes: Se alguém quiser ser o primeiro, será o derradeiro de todos e o servo de todos”  (Marcos 9:33-36)

Percebam que interessante: os discípulos estavam discutindo entre eles sobre qual deles era o maior! Podemos imaginar Pedro argumentando como os católicos, talvez com base em Mateus 16:18. Podemos imaginar João dizendo que ele era o único “discípulo amado” do Mestre, que se reclinava ao seu peito na Mesa do Senhor. Podemos imaginar Natanel alegando que ele era o único a quem Cristo havia dito que era um verdadeiro israelita, em quem não há falsidade. Podemos imaginar os outros discípulos fazendo menções a algum fato em especial que tenha marcado a vida deles com Jesus, como se isso significasse alguma posição especial e mais elevada em relação aos demais.

Mas então descobrem que Jesus estava ouvindo tudo desde o início. Constrangidos, eles ficam quietos. Ninguém mais tem coragem de mostrar seus argumentos para o Mestre, todos ficaram calados na expectativa de ouvirem do próprio Senhor deles a resposta para essa questão, sobre qual deles era o maior. Se Jesus fosse católico, certamente ele teria dito que aquela discussão era inútil, pois ele já teria falado que era Pedro. O “sobre esta pedra” e o poder das chaves foram ditos por Cristo a Pedro em Marcos 8:29, e essa discussão era posterior, em Marcos 9:33-36. Podemos imaginar o “Cristo católico” respondendo asperamente, dizendo:

“Como assim vocês ainda estão discutindo sobre quem de vocês é o maior? Não me ouviram dizendo agora há pouco que era Pedro? Não sabem que eu entreguei só a Pedro as chaves do Reino dos Céus? Não entenderam que vocês todos estão edificados ‘sobre esta pedra’ que é Pedro, e não eu? Então parem de discutir bobagens. O primado é de Pedro e ponto final!”

É assim que os católicos costumam reagir aos argumentos protestantes, mas como foi que o próprio Cristo reagiu a este respeito? Ele disse mesmo que aquela discussão era inútil, pois já estava decidido que era Pedro? É claro que não! Ele, ao contrário, disse isso:

“Vocês sabem que aqueles que são considerados governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês (Marcos 10:42)

Fantástico! Ao invés de Cristo dizer que Pedro iria exercer domínio (primado, autoridade superior, jurisdição universal) sobre eles, ele diz que não seria assim entre eles! Ao contrário dos “governantes das nações”, que tinham autoridade sobre os que eram governados, Jesus diz que isso não aconteceria na comunidade cristã! Este verso é um golpe de morte na doutrina romanista do primado de Pedro, pois eles pensam exatamente o contrário: que Pedro e “seus sucessores” exerceriam autoridade sobre todos os demais bispos da comunidade cristã!

Note que Cristo estava traçando um contraste entre as nações e a Igreja. Ele diz que nas nações existem “governantes” (naquela época reis, hoje presidentes) que exerciam domínio (autoridade) sobre quem era governado, mas que isso não aconteceria entre os cristãos! Não obstante, a Igreja Católica pisa em cima das palavras de Cristo e faz exatamente o inverso: elege Pedro como exercendo primado sobre todos os demais da mesma forma que os governantes das nações governam as nações, e é dona de um poder temporal com o papa sendo o governante máximo do Estado do Vaticano!

Em outras palavras, Cristo fala para a Igreja ser o inverso daquilo que ocorre entre as nações, e a Igreja Católica faz exatamente igual ocorre nas nações, com um “rei” (papa) governando um Estado (Vaticano) e exercendo domínio temporal e espiritual sobre seus “súditos” (outros clérigos e leigos). Quando conferimos o significado das palavras usadas pelo evangelista Marcos, constatamos ainda mais fortemente o contraste entre o ensino de Cristo e o da Igreja Católica:

“a=kai tsb=o tsb=de tsb=iêsous proskalesamenos autous a=o a=iêsous legei autois oidate oti oi dokountes archein tôn ethnôn katakurieuousin autôn kai oi megaloi autôn katexousiazousin autôn”

Marcos usa duas palavras para traduzir aquilo que Jesus originalmente disse, expressando aquilo que, como vimos, era para os cristãos não serem. São elas:

2634 κατακυριευω katakurieuo
de 2596 e 2961; TDNT - 3:1098,486; v
1) colocar sob o seu domínio, sujeitar-se, subjugar, dominar.
2) manter em sujeição, domínio sobre, exercer senhorio sobre.

757 αρχω archo
uma palavra primária; TDNT - 1:478,81; v
1) ser o chefe, liderar, governar.

Ele disse que as nações tinham um governante terreno que as “dominavam” (archo) e “exerciam poder” (katakurieuo) sobre elas, e que não seria assim entre os cristãos, com alguém que exercesse archo ou katakurieuo sobre os demais cristãos. Ocorre que archo e katakurieuo são exatamente aquilo que os católicos designam a Pedro: archo designa exatamente liderança, governo, ser o chefe. A Igreja Católica diz oficialmente que Pedro é o chefe dos apóstolos, o líder dos cristãos e que o papa é quem governa o Estado do Vaticano, que é um país.

Da mesma forma, Cristo disse que entre os cristãos não haveria alguém que exercesse katakurieuo sobre os demais cristãos. E katakurieuo significa exatamente ter domínio sobre alguém, ter alguém sujeitoà sua autoridade máxima. E é precisamente isso o que a Igreja Católica faz na figura do papa: diz que todos devem se sujeitar ao Sumo Pontífice porque as suas palavras são infalíveis em ex cathedra e seus dogmas não contém erro.

Portanto, a Igreja Católica atribui a Pedro e aos bispos de Roma tanto archo como katakurieuo, que são duas coisas que Cristo disse que não era para existir entre os cristãos!  Se Jesus fosse favorável ao domínio que o papa exerce sobre os demais (tanto clérigos como leigos), ele obviamente teria dito exatamente o contrário, isto é, que Pedro exerceria liderança na Igreja, assim como os governantes das nações exerciam liderança sobre as nações. Não seria uma antítese, mas uma analogia.

O próprio fato de os discípulos terem disputado entre si acerca de qual deles era o maior nos mostra que não existia a ideia de primado entre eles, pois se eles cressem que Pedro era papa não estariam discutindo quem era o maior, mas no máximo estariam disputando o segundo lugar. Isso nos revela que eles não interpretaram as palavras de Cristo a Pedro em Mateus 16:18 (e outras semelhantes a essa) como um sinal de primado deste, mas continuavam discutindo sobre quem era o maior exatamente porque sabiam que as “evidências” criadas pelos católicos não significam nada em termos de autoridade superior de um apóstolo sobre os demais, mas são interpretadas corretamente de outra forma. 

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)

-Extraído de meu livro: "A História não contada de Pedro".


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