O cânon do Novo Testamento invalida a Sola Scriptura?


Os papistas argumentam que a Sola Scriptura é falsa porque não há na Bíblia uma lista de livros inspirados (cânon). Mas isso é uma mera distorção do significado de “Sola Scriptura”, pois, mais uma vez, eles distorcem o significado do termo como se Sola Scriptura significasse que tudo tem que estar na Bíblia – o que incluiria o cânon – quando, na verdade, significa que todas as doutrinas tem que constar nas Escrituras – e o cânon não é doutrina. Assim sendo, o apelo de que o cânon bíblico precisa estar na Bíblia para a Sola Scriptura ser verdadeira é mera invenção papista, fruto de puro desconhecimento teórico.

Ainda, eles afirmam que o cânon é de autoridade da Igreja Romana que o decretou, e que isso confirmaria uma supremacia de um magistério papal sobre as Escrituras. Essa tese é tão estúpida que foi o próprio Agostinho quem a refutou, quando disse:

“Na questão das Escrituras canônicas, ele deve seguir a autoridade do maior número de igrejas católicas, entre as quais estão aquelas que merecem ocupar assentos apostólicos e receber epístolas. Ele observará essa regra a respeito das Escrituras canônicas: preferirá aqueles pontos aceitos por todas as igrejas católicas, e não as que alguns não aceitam; entre aqueles que não são aceitos por todos, ele deve preferir aqueles que são aceitos pelo maior número de igrejas importantes, em vez de apoiados por poucas igrejas pequenas de autoridade inferior. Se ele descobrir que alguns são mantidos pela maioria das igrejas, outros pelas igrejas de autoridade com maior peso, ainda que esta condição não seja plausível, deve manter para que haja igual valor”[1]

Note que Agostinho, ao escrever sobre o cânon (quais livros eram considerados canônicos e quais não eram), em momento nenhum diz que é a Igreja de Roma que define a questão, ou que há um magistério infalível romano que determina quais livros são inspirados e quais não são, ou que há um papa universal na Igreja que define a questão em ex cathedra fazendo uso das chaves do Reino dos céus. Não. O que ele diz vai contra tudo isso, pois ele simplesmente fala para o povo seguir o maior consenso nas igrejas locais.

Como o Dr. Robert Godfrey observa, “essa confirmação mostra que Agostinho não dependia de papas e concílios para a solução da questão do cânon. Ele reconhecia a variedade entre as igrejas, e a conveniência de uma pluralidade delas. Incentivava todos os estudantes da Escritura a examinarem a questão e observava o consenso espontâneo entre o povo de Deus”[2].

Em outras palavras, ao invés de Agostinho dizer que o cânon bíblico é definido por uma declaração oficial da Igreja Romana ou por um papa infalível, ele pede para que as pessoas sigam um consenso geral entre os cristãos da época, preferindo aceitar como canônicos os livros que a maioria considera canônicos. Ele seguia claramente o princípio reformado de que o cânon bíblico é auto-autenticável, ou seja, que a Igreja (cristãos) não determina um cânon, mas reconhece um cânon, pois os livros realmente inspirados dão testemunho interior pelo Espírito Santo de que são inspirados.

Assim sendo, enquanto para os papistas a Igreja define quais livros são inspirados e quais não são, para os cristãos evangélicos a Igreja apenas reconhece aqueles livros que já eram inspirados muito antes de ela reconhecer isso. Não cabe à Igreja determinar nada, mas apenas reconhecer o que foi previamente determinado pelo Espírito Santo na inspiração de cada livro. Como o Espírito Santo habita nos cristãos, deve haver um consenso geral entre os cristãos acerca dos livros inspirados, o que nos leva a reconhecer tais livros como canônicos. Era assim que Agostinho (e os reformados) cria.

Os evangélicos creem que o Evangelho de Lucas já era inspirado e canônico desde o primeiro momento em que Lucas o escreveu. Ele não se tornou inspirado ou canônico somente quando algum concílio definiu isso. A inspiração, inerrância, canonicidade e infalibilidade de cada livro sagrado da Bíblia são garantidas à par de qualquer concílio ou decisão particular. Cabe à Igreja apenas reconhecer essa inspiração. Quando a maioria entra em um consenso sobre a inspiração dos livros, é porque o Espírito Santo os direcionou a este fim.

Os católicos romanos, ao contrário, creem que foram os concílios e a autoridade da Igreja Romana e do papa que decidiram quais livros seriam inspirados e quais não seriam. Assim sendo, se a Igreja de Roma não dissesse que o Evangelho de Lucas é inspirado, ele não seria. Como disse, então é. Eles invertem a lógica e fazem a Bíblia submissa a uma instituição particular. E, logicamente, eles fazem com que essa instituição particular seja a Romana.

Para citarmos um exemplo de como funciona o paradigma que separa evangélicos de romanistas neste ponto pense na gravidade. A Lei de Gravitação Universal é atribuída a Isaac Newton, mas ninguém seria insano de dizer que foi Newton que criou a gravidade ou que definiu que a gravidade existiria ou não. Newton apenas reconheceu a existência da gravidade, e sua teoria foi confirmada pelos outros cientistas desde então.

Ou então pegue o caso de Cristóvão Colombo e sua descoberta da América em 1492. Podemos dizer que a partir de então os europeus reconheceram a existência das Américas, mas seria leviano se alguém dissesse que Colombo decretou a existência das Américas ou que a existência das Américas depende da descoberta de Cristóvão Colombo.

É a mesma coisa que ocorre na questão do cânon. Da mesma forma que Newton não decretou a existência da lei gravitacional e que Colombo não definiu a existência do continente americano, a Igreja não definiu a existência do cânon, mas apenas reconheceu quais livros eram inspirados. Isso explica facilmente o porquê que nenhum apóstolo ou Pai da Igreja esperou até o final do século IV para surgir um concílio que definiria o cânon da Bíblia para só depois dizer quais livros eram de fato Escritura. Eles já os reconheciam desde sempre.

Pedro chamou os escritos de Paulo de Escritura, junto ao Antigo Testamento:

“Suas cartas contêm algumas coisas difíceis de entender, as quais os ignorantes e instáveis torcem, como também o fazem com as demais Escrituras, para a própria destruição deles” (2ª Pedro 3:16)

E Paulo citou um trecho do Evangelho de Lucas (Lc.10:7) como sendo Escritura também:

“Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino. Pois a Escritura declara: ‘Não amordaces o boi, quando pisa o trigo’. E ainda: ‘O trabalhador é digno do seu salário’” (1ª Timóteo .5:18)

Nenhum deles pensou: “Eu vou esperar até que a Igreja faça um concílio e defina a extensão do cânon para saber quais livros são Escritura e quais não são, porque a Bíblia é filha da Igreja”. Pelo contrário. Eles muito antes do Concílio de Hipona (393) e de Cartago (397) já diziam que os escritos apostólicos eram Sagrada Escritura. Para eles, a sacralidade, inspiração e canonicidade da Bíblia não dependem de concílios, senão nenhum deles teria chamado aqueles livros neotestamentários de “Escritura” há mais de trezentos anos antes de qualquer concílio que trataria a questão.

Policarpo, o discípulo do apóstolo João, também já reconhecia desde os fins do século I que os escritos de Paulo eram considerados Escritura, pois disse:

“Creio que sois bem versados nas Sagradas Letras e que não ignorais nada; o que, porém, não me foi concedido. Nessas Escrituras está dito: ‘Encolerizai-vos e não pequeis, e que o sol não se ponha sobre vossa cólera’. Feliz quem se lembrar disso. Acredito que é assim convosco’[3]

O texto citado por Policarpo não se encontra em outro lugar da Bíblia a não ser em Efésios 4:26, considerado por Policarpo como “Sagradas Letras” e “Escrituras”, a despeito de qualquer definição papal ou de qualquer concílio sobre o cânon. Orígenes inclusive disse:

“O Espírito Santo, porém, não cuidou apenas das Escrituras compostas até ao advento de Cristo; mas sendo um e o mesmo Espírito, e procedendo de um mesmo Deus, procedeu de igual modo com os evangelistas e apóstolos”[4]

Jerônimo, também antes dos concílios de Hipona e Cartago, citou uma lista com todos os livros do Novo Testamento como sendo Escritura:

Tratarei brevemente do Novo Testamento. Mateus, Marcos, Lucas e João são a equipa quádrupla do Senhor, os verdadeiros querubins ou depósito de conhecimento (...) O Apóstolo Paulo escreve a sete igrejas (pois a oitava epístola, aos Hebreus, não é geralmente contada com as outras). Instrui Timóteo e Tito; intercede ante Filemom pelo seu escravo fugitivo (...) Os Atos dos Apóstolos parece relatar uma história sem adorno e descrever a infância da igreja recém-nascida, mas uma vez que nos damos conta que o seu autor é Lucas, o médico cujo louvor está no evangelho, veremos que todas as suas palavras são remédios para a alma doente. Os apóstolos Tiago, Pedro, João e Judas produziram sete epístolas, ao mesmo tempo espirituais e concisas. O Apocalipse de João tem tantos mistérios como palavras. Ao dizer isto, disse menos do que o livro merece”[5]

A mesma coisa fez Atanásio, ao citar em meados do século IV uma lista de livros neotestamentários considerados Escritura, também décadas antes de Hipona e Cartago:

“Não é tedioso repetir os [livros] do Novo Testamento. São os quatro Evangelhos, segundo Mateus, Marcos, Lucas e João. Em seguida, o Atos dos Apóstolos e as sete Epístolas [chamadas ‘católicas’], ou seja: de Tiago, uma; de Pedro, duas; de João, três; de Judas, uma. Em adição, vêm as 14 Cartas de Paulo, escritas nessa ordem: a primeira, aos Romanos, as duas aos Coríntios, uma aos Gálatas, uma aos Efésios, uma aos Filipenses, uma aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, uma aos Hebreus, duas a Timóteo, uma a Tito e, por último, uma a Filemom. Além disso, o Livro da Revelação de João”[6]

Orígenes, semelhantemente, já nos dava uma lista completa dos livros do Novo Testamento desde o século III:

“Assim também nosso Senhor Jesus Cristo (...) enviou seus apóstolos como sacerdotes, levando trombetas bem forjadas. Primeiro Mateus tocou a trombeta sacerdotal no seu Evangelho, Marcos também, e Lucas e João, cada um deu publicamente a força sobre suas trombetas sacerdotais. Pedro além disso soa com as duas trombetas de suas epístolas; Tiago também e Judas. Ainda assim, o número é incompleta, e João dá adiante o som da trombeta através de suas epístolas [e Apocalipse]; e Lucas ao escrever os atos dos apóstolos. Depois de todos, além desses, veio um que disse: ‘Eu acredito que Deus me fez como o último dos apóstolos’ (1 Cor 4:9), e trovejando sobre as catorze trombetas de suas epístolas ele derrubou, mesmo para seus próprios fundamentos, o muro de Jericó, ou seja, todos os instrumentos de idolatria e os dogmas dos filósofos”[7]

Tantas declarações categóricas da canonicidade dos livros bíblicos muito antes de qualquer definição em concílio ou de qualquer papa se manifestar sobre a questão nos mostra que o sistema reformado está anos-luz à frente na análise da questão do cânon do que o ultrapassado sofisma papista, que inverte a questão para seu próprio benefício, tornando a Bíblia menor que uma instituição religiosa.

Alguém ainda poderia perguntar por que demorou tanto tempo para haver um consenso mais geral sobre os livros reconhecidos como inspirados, já que houve escritores eclesiásticos nos primeiros séculos que ainda tinham dúvidas em relação à canonicidade de certos livros (como o Apocalipse ou Judas). A resposta a isso se encontra em Agostinho, que disse:

“Pois, ainda que haja alguma verdade nestes escritos apócrifos, eles ainda contêm tantos falsos depoimentos que não têm autoridade canônica. Não podemos negar que Enoque, o sétimo depois de Adão, deixou alguns escritos divinos, pois isso é afirmado pelo apóstolo Judas em sua epístola canônica. Mas não é sem razão que estes escritos não têm lugar na Escritura canônica que foi preservada no templo dos hebreus pela diligência de sucessivos sacerdotes; pela sua antiguidade ficou sob suspeita, e era impossível saber se estes eram seus escritos originais, e eles não foram considerados genuínos pelas pessoas que cuidadosamente preservaram os livros canônicos por uma transmissão sucessiva”[8]

Em outras palavras, a razão pela qual alguns livros foram colocados em dúvida por alguns nos primeiros séculos não foi porque eles estavam aguardando a confirmação de um concílio infalível que determinasse a questão, mas sim porque tinham dúvidas quanto à antiguidade e originalidade de alguns livros. Nenhum escritor que questionou a canonicidade do Apocalipse disse que o Apocalipse poderia não ser Escritura porque nenhum concílio havia confirmado se era ou não. Ao contrário: questionavam porque suspeitavam da autenticidade do livro em questão.

Sendo assim, mesmo naqueles escritores que colocaram em dúvida a canonicidade de algum livro inspirado, há ainda muita prova abundante de que eles não tinham qualquer visão de que a canonicidade dependesse de um decreto da Igreja de Roma ou de alguma definição conciliar. Seria realmente cômico que demorassem quase quatro séculos para tratarem a questão se tudo o que precisava para determinar quais livros eram inspirados era a realização de um concílio.

Se eles cressem que é a Igreja que determina o cânon da Bíblia – e dada a importância que eles davam às Escrituras – ninguém iria demorar mais de três séculos para reunir algumas centenas de bispos e definir a questão. Eles demoraram porque sabiam que não seria um concílio que daria por encerrado o assunto ou que determinaria quais livros eram inspirados.

Eles aguardaram a confirmação de quais livros eram autênticos através do testemunho interior do Espírito Santo que levou a Igreja a um consenso sobre quais livros eram verídicos e quais não eram. Os concílios que vieram depois não definiram nada, mas meramente reconheceram aquilo que já era vigente há décadas na Igreja. Como disse Sproul, “a Igreja não estabeleceu o cânon, mas o reconheceu e submeteu-se ao seu governo”[9].

O Dr. Robert Godfrey também acertou quando disse:

“Devemos notar que, historicamente, o cânon não foi formado por papas e concílios; tais instituições simplesmente reconheceram o consenso espontâneo do povo de Deus ao reconhecer a autenticidade das Escrituras. Indubitavelmente, quaisquer critérios usados por papas e concílios para o reconhecimento do cânon (autoria, estilo, conteúdo, testemunho do Espírito, etc), estes mesmos critérios estavam disponíveis ao povo de Deus como um todo”[10]

Também é importante ressaltar que não houve nenhum concílio romano que definiu a lista de livros canônicos até o Concílio de Trento (1545-1563), pós-reforma Protestante. Os concílios supracitados como o de Hipona e de Cartago não eram concílios ecumênicos (universais), mas somente locais, e não tinham autoridade universal na Igreja da época, mas somente na extensão da sua jurisdição, que, por sinal, ocorreu no norte da África.

Usar estes concílios como uma “prova” da Igreja Romana é um anacronismo ridículo e totalmente sem fundamento, visto que a Igreja de Roma da época teve zero participação nas definições de Cartago e de Hipona. Tais concílios não foram convocados por um papa, não foram presididos por um papa, e, como se não bastasse, não tiveram sequer a presença do papa e nem mesmo de um legado papal! O único concílio convocado por um papa da época para tratar da questão do cânon foi o de Roma, em 382, só que este concílio deixou de fora o livro de 2ª Coríntios, como já escrevi neste artigo. Em outras palavras, na única vez em que o papa da época se reuniu para tratar a questão do cânon, ele errou. Nem o Concílio de Trento (1546) seguiu a lista do concílio do papa Dâmaso, preferindo adotar a lista de Hipona e Cartago!

Portanto, dizer que o papa ou que a Igreja de Roma teve alguma participação na questão do cânon é simplesmente desonestidade intelectual de apologista sem vergonha. Se o papa tivesse tido qualquer papel relevante, teríamos que jogar fora o livro de 2ª Coríntios. Do jeito que ficou, se alguma igreja (comunidade local da época) merece o crédito são as do norte da África supracitadas. Mas elas não estavam sob a jurisdição do bispo de Roma, e ainda atacavam com dureza toda e qualquer tentativa de um bispo de fora querer se impor sobre as decisões deles, como fica bastante evidente em seus concílios locais:

“Igualmente decidimos que os presbíteros, diáconos e outros clérigos inferiores, nas causas que surgirem, se não quiserem se conformar com a sentença dos bispos locais, recorram aos bispos vizinhos, e com eles terminem qualquer questão (...) E que, se ainda não se julgarem satisfeitos e quiserem apelar, não apelem senão para os concílios africanos, ou para os primazes das próprias províncias; e que, se alguém apelar para a Sé Transmarina (de Roma) não seja mais recebido na comunhão (Concílio de Cartago, ano 418)

Pois nenhum de nós coloca-se como um bispo de bispos, nem por terror tirânico alguém força seu colega à obediência obrigatória; visto que cada bispo, de acordo com a permissão de sua liberdade e poder, tem seu próprio direito de julgamento, e não pode ser julgado por outro mais do que ele mesmo pode julgar um outro. Mas esperemos todos o julgamento de nosso Senhor Jesus Cristo, que é o único que tem o poder de nos designar no governo de Sua Igreja, e de nos julgar em nossa conduta nela” (Sétimo Concílio de Cartago, ano 256)

O que fica claro ao consultar estes concílios de Cartago? Que os bispos dali tinham a consciência de que eram totalmente submissos ao infalível e todo-poderoso bispo de Roma, que supostamente detinha uma jurisdição universal sobre toda a Igreja, inclusive sobre Cartago? É óbvio que não. O que está evidente é que a Igreja do norte da África era independente, ou seja, fazia parte da Igreja universal (“católica”) assim como as demais igrejas ocidentais e orientais, mas tinha jurisdição própria e autonomia local, não sendo sujeita à igreja de Roma de forma alguma.

Seguindo a lógica papista, devemos nos submeter à igreja que “definiu” o cânon. Essa igreja não foi a Igreja Romana (que surgiu depois do cisma) e nem a comunidade local de Roma já existente na época, mas as igrejas do norte da África, especialmente Cartago e Hipona. Mas elas foram totalmente destruídas pelos muçulmanos nas invasões árabes que tomaram a totalidade da África na Alta Idade Média. Para ser claro: essas igrejas não existem mais.

Colocá-las na conta da Igreja Romana é puro devaneio: ninguém sabe se por ocasião do cisma de 1054 elas decidiriam se aliar à Roma e fazer parte da Igreja Romana, ou se iriam se aliar à ortodoxia grega, ou se iriam permanecer independentes até hoje. O romanista que joga na base do achismo é simplesmente um desonesto intelectual. Querer usar o “argumento do cânon” para fundamentar uma Igreja Romana desenvolvida após um racha que ocorreu séculos depois dos concílios africanos é mais do que jogo sujo: é mau-caratismo mesmo.

É um absurdo, além de uma usurpação, que os romanistas peguem para si aquilo que não é deles – dois pequenos sínodos no norte da África que não tiveram participação nem influência do bispo romano, e em uma região que não era administrada jurisdicionalmente pelo bispo de Roma. O Concílio ecumênico de Niceia declarou que “o bispo de Alexandria terá jurisdição sobre o Egito, Líbia e Pentápolis; assim como o bispo romano sobre o que está sujeito a Roma. Assim, também, o bispo de Antioquia e os outros, sobre o que está sob sua jurisdição[11].

Se a jurisdição de Roma não se estendia à África, mas se limitava à própria Roma, com que moral os papistas querem reclamar para si as decisões de um sínodo local que não era deles, que não estava sob a jurisdição deles e que não estava debaixo da autoridade deles?

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,

-Parcialmente extraído de meu livro "Em Defesa da Sola Scriptura", com modificações.


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[1] On Christian Doctrine, Livro 2, seção VIII (Nova York: Liberal Arts Press, 1958), p. 41.
[2] GODFREY, Robert. Sola Scriptura: Numa época sem fundamentos, o resgate do alicerce bíblico. Editora Cultura Cristã: 2000,  p. 30.
[3] Policarpo aos Filipenses, 12:1.
[4] De Principii, 4:16.
[5] Carta LIII. Em Philip Schaff e Henry Wace, Editors: A Select Library of Nicene and Post-Nicene Fathers of the Christian Church, Second Series [1892]. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans, Reimpresión, 1991; 6:101-102.
[6] Epístola 39, 5.
[7] Hom. Josh. 7.1, as cited in Metzger, The New Testament Canon, 139.
[8] A Cidade de Deus, Livro XV, 23.
[9] SPROUL, Sobert Charles. Sola Scriptura: Numa época sem fundamentos, o resgate do alicerce bíblico. Editora Cultura Cristã: 2000,p. 70.
[10] GODFREY, Robert. Sola Scriptura: Numa época sem fundamentos, o resgate do alicerce bíblico. Editora Cultura Cristã: 2000, p. 29.
[11] Cânon VI.

Comentários

  1. Você crê que o cristianismo possa crescer e ganhar mais adeptos na China?

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  2. "Os papistas argumentam que a Sola Scriptura é falsa porque não há na Bíblia uma lista de livros inspirados (cânon)"

    E se houvesse na própria Escritura uma lista de livros? Isso resolveria o problema para o papista? Estou quase certo que não. Ele ainda iria dizer que a lista de conteúdos só é inspirada porque a igreja romana determinou que era. No fim das contas, o papista precisa rebaixar a autoridade da Escritura para elevar a autoridade da sua igreja. Por isso, eles sempre considerarão a Escritura insuficiente. Eles não podem admitir que os livros são auto-autenticáveis.

    Paulo já nos ensinava sobre isso. Muitos questionavam seu apostolado e sua mensagem, e a resposta foi:

    Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens. Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo. (Gálatas 1:11,12)

    No verso 17, ele diz:

    Nem tornei a Jerusalém, a ter com os que já antes de mim eram apóstolos, mas parti para a Arábia, e voltei outra vez a Damasco.

    Paulo não sentiu necessidade de buscar a autenticação dos demais apóstolos e não apelou a nenhuma outra autoridade humana para autenticar seu evangelho. A resposta dele foi apelar a Deus que lhe havia revelado a mensagem.

    Com relação a lista de livros, com certeza não é uma doutrina. Ninguém é salvo pelo conhecimento da lista de livros, mas sim por conhecer o evangelho. O papista pode argumentar que precisamos saber o cânon para chegarmos ao conhecimento do evangelho, isso é verdade. Mas da mesma forma, precisamos saber hebraico, aramaico e grego para chegar ao conhecimento salvador. Todos esses conhecimentos não doutrinários são necessários, mas não impugnam a sola scritptura, pois esse princípio não pressupõe que a Escritura seja a única fonte de verdade. O teólogo reformado Francis Turrentin escreveu:

    "Em primeiro lugar, [filosofia] serve como um meio de convencer os gentios e prepará-los para a fé cristã. Clemente de Alexandria diz que "prepara o caminho para a doutrina mais verdadeira" ..., como é evidente a partir dos sermões de Paulo ... e dos escritos dos pais contra os gentios. ... Então, Deus nos quer aplicar a todas as verdades das ciências inferiores à teologia e depois de resgatá-los dos gentios (como os titulares de uma má-fé) tomá-las e destiná-las a Cristo, que é a verdade, para a construção do templo sobrenatural .... Em segundo lugar, ela pode ser um testemunho de consentimento em coisas conhecidas pela natureza .... Em quarto lugar, a mente pode ser preparado por esses sistemas de qualidade inferior para a recepção e manejo de uma ciência superior. Isso deve, contudo, ser feito com tanto cuidado que um demasiado amor à filosofia não possa nos cativar e não podemos considerá-la como uma senhora, mas como uma serva." 1.13.5

    A ciência inferior nos ajuda a receber a ciência superior, no caso, a revelação das Escrituras. Dessa forma, como os reformadores entenderam, a Sola Scriptura nunca eliminou a necessidade de outros conhecimento não-doutrinários para conhecermos e entendermos a revelação especial de Deus.

    Nesse ponto, o papista pode responder que do ponto de vista reformado, o cânon não é um fruto de uma decisão falível. Os papistas por sua vez teriam essa autoridade infalível para autenticar infalivelmente o cânon. Concedendo para o bem do debate que essa autoridade infalível exista, ainda assim o problema não é resolvido. Nós ainda precisaríamos reconhecer quem exerce essa autoridade infalível. Se um cético deseja descobrir qual o sistema de crença correto ou qual a autoridade genuína, ele precisará investigar a história, a Escritura, o magistério, e a partir do seu julgamento falível tomar essa decisão. No fim das contas, todos dependem do seu julgamento falível.

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  3. (cont...)

    Apesar de termos boas razões históricas e bíblicas para acreditarmos que possuímos o cânon correto, nossa certeza vem do fato de que Deus tem como propósito instruir o seu povo e de alguma forma ele iria tornar essa instrução reconhecível pelo seu povo. Como Jesus disse: "as minhas ovelhas ouvem minha voz".

    O testemunho corporativo da igreja dos primeiros séculos é uma forte linha de evidências entre outras que possuímos a favor do cânon. Da mesma forma como Deus deu as Escrituras ao povo na antiga aliança sem a necessidade de uma autoridade infalível que a autenticasse, assim o fez na nova aliança.

    De qualquer forma, é impressionante que os católicos ainda usem a questão do cânon para estabelecer a autoridade de sua igreja. Na verdade, longe de favorecer Roma nesse pleito, a questão do cânon mostra que a igreja primitiva não cria em alguma autoridade infalível além da Escritura.

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  4. O que achou da atitude desse padre?

    https://www.youtube.com/watch?v=ZP-JQ-pz3Uo

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  5. Lucas o que voce acha das pregaçoes do Pastor Silas Malafaia?

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    1. Acho antropocêntricas demais, mas as vezes dá pra aprender alguma coisa.

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    2. Arminianismo é isso mesmo. Antropocentrismo puro. Mas as vezes dá pra aprender alguma coisa com arminianos (tipo nesse blog) :)

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    3. Não acho que ele seja antropocêntrico por ser arminiano, mas sim porque é neopentecostal.

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    4. Desculpe a ignorância,mas o que é Antropocentrismo?

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    5. É quando o foco da pregação está no homem e não em Deus. É quando a pregação se resume a: "Você vai conseguir a vitóóóória!!!".

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  6. Vamos fazer aquela entrevista????

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  7. No céu haverá calvinistas e arminianos?

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    1. O que você quer? Um texto onde o apóstolo Paulo diz que "calvinistas e arminianos vão pro céu"?

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    2. Desculpa Lucas, eu me expressei errado!
      O que eu devia ter perguntado, era se no céu as pessoas ainda discordarão sobre calvinismo x arminianismo, ou se elas concordarão, terão o mesmo pensamento. Isso falando de calvinismo e arminianismo, mas pode envolver outras questões também.
      Obrigado
      Abs!

      Excluir
    3. Não creio, porque na vida eterna todos nós vamos saber quem estava certo e quem estava errado sobre as coisas, não haverá mais suspense e mistérios. Paulo diz que hoje nós conhecemos a Deus parcialmente, e que um dia o conheceremos PLENAMENTE, e se o conheceremos plenamente então saberemos se a eleição é condicional ou incondicional, se a predestinação é assim ou assado, se tudo era determinado ou se existia livre-arbítrio, e assim por diante. Não vai haver mais "mistérios" quando chegarmos do lado de lá, o mistério existe enquanto ainda estamos aqui.

      Abs!

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  8. Uma prostituta pode ser salva? E se ela se prostitui por necessidade?

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    1. Eu não consigo pensar em algum personagem bíblico de Deus se prostituindo "por necessidade". Se a pessoa está mesmo na miséria, é melhor mendigar ou vender bugigangas na rua do que se prostituir. Viver na prostituição é viver em pecado deliberado, e "sem santidade ninguém verá ao Senhor" (Hb.12:14).

      Excluir
    2. Nos EUA ninguém dá dinheiro para mendigo, e é proibido vender bugigangas na rua. O que essa pessoa faria?

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    3. Nos EUA ninguém vai morrer de fome por não se prostituir.

      Excluir
  9. O que você acha do Luís Felipe Pondé?

    ResponderExcluir
  10. Mais um ótimo artigo.
    Você observou bem o fato de que,muitas vezes,os católicos acabam tomando esses concílios como se fossem da igreja romana.

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  11. Lucas, eu tenho medo de morrer, tenho medo que meus pais morram, tenho medo que minha família morra.
    Eu sei que Deus existe, conheço a doutrina da "justificação pela fé", os 5 solas, calvinismo e arminianismo, tento ler a bíblia por cerca de 1 hora por dia, mas mesmo assim tenho medo de morrer.
    Você pode me dizer alguma coisa?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Você não tem que ter medo de morrer. Tem que ter medo de morrer SEM CRISTO. Se você morrer em Cristo, a morte será até melhor do que a continuação da vida, pois se verá direto com Deus na ressurreição dos mortos, sem ter que passar por todas as tribulações desta vida. Ou seja, se você está em Cristo, deve estar em paz.

      Quanto aos seus familiares, eles vão morrer um dia de qualquer jeito. A sua obrigação não é de evitar a morte deles que irá necessariamente ocorrer, mas sim de tratá-los da melhor forma possível enquanto eles ainda estão vivos, para que quando chegar o dia da morte deles você esteja de consciência tranquila por ter feito o melhor a eles enquanto viveu. Eu não tenho medo da minha própria morte, mas também compartilho do seu medo da morte de familiares, mas tento relevar isso pensando desta maneira, tentando fazer o melhor a eles enquanto eles estão vivos, para não me sentir nem um pouco penalizado depois que eles se forem.

      Não é com o "quando" que você deve estar preocupado, mas com o "como". O "quando" irá necessariamente acontecer um dia e nós não podemos impedir isso, mas o "como" tratamos as pessoas até lá está em nossas mãos, e devemos fazer tudo pelo próximo no que está em nossas mãos, ou seja, em nossa capacidade de colocar em prática. No que depende da gente, é nisso que devemos nos preocupar em praticar. Não naquilo que não depende.

      Abs.

      Excluir
  12. Lucas, tenho uma dúvida sobre a doutrina da justificação pela fé (na verdade duas), pode me ajudar?
    1). Essa doutrina diz que somos justificados somente pela fé em Cristo, e por nenhum mérito nosso. Um favor totalmente imerecido da parte de Deus. Minha duvida é: ter "fé", e "acreditar" em Cristo, não é um mérito nosso?
    2). A pessoa acredita em Jesus, ela não tem 100% de certeza, mas apesar de não ter 100% de certeza ela tenta seguí-lo da melhor forma possível, ela pode ser salva? Em outras palavras, existe um grau mínimo de fé que a pessoa precisa ter para ser salva?

    Muito obrigado!
    Abs!

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    1. Olá, a paz.

      1) A fé não é um mérito próprio, porque ela é um dom de Deus:

      "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Efésios 2:8)

      2) Pode ser salva. O que é necessário é que se tenha uma fé COMO o grão de mostarda, ou seja, uma fé que, mesmo que seja pequena, tem a tendência de crescimento:

      "E disse o Senhor: Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: Desarraiga-te daqui, e planta-te no mar; e ela vos obedeceria" (Lucas 17:6)

      Abs!

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  13. Lucas, eu agradeço muito que você tenha escolhido o meu perfil do Facebook para me encaminhar um pedido de amizade. Porém, o Facebook, eu reservo para contato com os familiares. Se você quiser, pode seguir me o meu perfil do Google+ onde eu posto matérias de geopolítica, cultura e fé. O meu Facebook tem pouco conteúdo, só piadas, geralmente.

    Em todo o caso, deixei um recado importante lá, que eu queria que você refletisse e compartilhasse, caso concorde: https://www.facebook.com/rodrigosilvabarros/posts/1141369975873702

    Para você acessar o meu perfil do Google+, basta clicar na minha foto.

    Abs.

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    1. Ok, me desculpe. É que eu sou o inverso, quase não entro no Google+ e estou constantemente online no facebook. De qualquer forma, passarei a te acompanhar pelo Google+ então. Abs!

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  14. Por que não aprovou meu comentário ainda?

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  15. Lucas qual sua visão sobre a união estável? Um cristão pode viver com outra pessoa em união estável?

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  16. Boa noite Lucas,queria fazer-lhe uma pergunta?Você é Calvinista ou arminianista?

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  17. Respostas
    1. O conde estava dizendo que vc era um Adventista. Daí vc já ver que a mentira para eles (papistas/fanáticos) é uma coisa aparentemente normal.

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