A Dormição de Maria e a imortalidade da alma



A “Dormição de Maria” é a crença de que Maria “dormiu” (morreu) e ressuscitou posteriormente, assim como Jesus Cristo, sem ter sofrido a corrupção no túmulo. Ela é crida pela Igreja Católica Ortodoxa, que comemora a morte de Maria e a sua ressurreição de corpo e alma aos céus como a “Festa da Dormição da Mãe de Deus” no dia 15 de Agosto (28 de Agosto no calendário juliano). Essa doutrina que sugeriu a assunção de Maria, embora não haja nenhuma pista de que tenha sido proveniente dos apóstolos, é de origem antiga, pois no quarto século d.C já haviam Pais da Igreja defendendo ou supondo essa ideia. Mas a pergunta principal a se destacar aqui sobre a dormição de Maria é: o que aconteceu com Maria entre a sua morte e assunção?

Como vemos, a Igreja Católica Ortodoxa crê que Maria ressuscitou de corpo e alma, e não se ressuscita algo que não esteja morto. A crença presume que Maria morreu completamente – corpo e alma – e posteriormente passou pela ressurreição, não meramente corporal, mas uma ressurreição de corpo e alma. A Igreja Romana igualmente crê que “Maria foi assunta de corpo e alma à glória celeste” (§966 do Catecismo Católico). Se Maria foi assunta de corpo e alma à glória celeste, isso significa que a alma de Maria não estava já no Céu quando ela ressuscitou.

A doutrina, portanto, presume que Maria morreu de corpo e alma e ressuscitou de corpo e alma. A Igreja Ortodoxa declara isso categoricamente, enquanto que a Igreja Romana, embora oficialmente não tenha tido uma declaração em ex cathedra que confirme se Maria morreu ou não, conta com diversas declarações de papas e doutores da Igreja que também criam que Maria passou pela morte. O papa João Paulo II, por exemplo, em sua Audiência Geral de 25 de Junho de 1997, citou São Tomás de Aquino e disse:

“No que diz respeito às causas da morte de Maria, não parecem fundadas as opiniões que querem excluir as causas naturais. Mais importante é investigar a atitude espiritual da Virgem no momento de deixar este mundo. A este propósito, São Francisco de Sales considera que a morte de Maria se produziu como efeito de um ímpeto de amor. Fala de uma morte ‘no amor, por causa do amor e por amor’ e por isso chega a afirmar que a Mãe de Deus morreu de amor por seu filho Jesus (Tratado do Amor de Deus, Liv. 7, cc. XIII-XIV). Qualquer que tenha sido o fato orgânico e biológico que, do ponto de vista físico, tenha produzido a morte de Maria, pode-se dizer que o trânsito desta vida para a outra foi para Maria um amadurecimento da graça na glória, de modo que nunca melhor que nesse caso a morte pode conceber-se como uma ‘dormição’"

Vemos claramente, portanto, o papa João Paulo II em uma audiência geral afirmando que Maria morreu, e citando São Francisco de Sales que cria da mesma forma. O padre Migual Ángel Fuentes segue essa mesma linha e cita também outro teólogo católico para confirmar a sua posição de que Maria passou realmente pela morte:

Segundo G. Alastruey ('Tratado da Virgem Santíssima', BAC, Madrid 1945, pp. 405 e seguintes), somente para citar um dos mais influentes mariólogos, a verdadeira doutrina (e que deve se ter como teologicamente correta) é que a Virgem Maria verdadeiramente morreu[Fonte: Doutrina Católica]

O mesmo cita também Agostinho, Jerônimo, João Damasceno, André de Creta, João de Tessalônica e Nicolás Cabasilas em apoio da tese de que Maria realmente morreu, de acordo com a tradição tanto grega como latina. Portanto, vemos que a crença crida pela Igreja Católica Ortodoxa também é a mesma crença da Igreja Católica Romana, de que:

Maria morreu de corpo e alma.

Maria ressuscitou de corpo e alma.

Maria foi assunta aos céus de corpo e alma.

Se a alma de Maria já tivesse subido aos céus no momento da morte, então Maria não teria sido assunta “de corpo e alma” como pregam a Igreja Romana e Ortodoxa, mas teria sido assunta somente de corpo, porque a alma supostamente já estaria no Céu. Isso mostra clarissimamente que até a época em que se deu essa tradição não se cria na imortalidade da alma, doutrina esta que ensina que a alma é imortal e parte desta vida imediatamente no momento da morte, e que a ressurreição é somente do corpo. Se os cristãos dos primeiros séculos cressem na imortalidade da alma, teriam ensinado que apenas o corpo de Maria que morreu, que a alma dela subiu ao Céu no momento da morte corporal, e que apenas o corpo ressuscitou e foi assunto ao Paraíso, como creem os imortalistas atuais.

A ressurreição de corpo e alma de Maria sugere fortemente que até aquela época a Igreja ainda não havia ensinado errado a doutrina da imortalidade da alma. Para que os mais mariólogos pudessem colocar Maria no Céu, não apelaram para uma “imortalidade da alma”, pois essa doutrina não existia na Igreja, por isso tiveram que sugerir a crença na assunção de Maria, onde tanto o corpo quanto a alma que morreram ressuscitariam e adentrariam os céus. Tempos mais tarde, quando a doutrina da imortalidade da alma ganhou força na Igreja da época, ficou muito mais fácil para os católicos colocarem todos os santos no Céu: bastou ensinar que a alma era imortal.

Desta forma, conseguem até hoje sustentar suas falsas doutrinas da canonização dos santos, intercessão dos santos, oração pelos mortos, purgatório e consulta aos mortos em cima deste sustentáculo pagão da imortalidade da alma, que é a base e fundamento de todas as demais heresias. Os primeiros cristãos não tinham tal crença, tanto é que a palavra “cemitério” veio dos cristãos primitivos. Os romanos chamavam de “necropolis”, que era a cidade dos mortos, mas os cristãos, por crerem diferente dos romanos pagãos que ensinavam a vida no pós-morte, decidiram dar um nome diferente ao local onde colocamos os mortos, chamando-o de “cemitério”, que vem do grego kimitírion, significando “dormitório”.

Por que os cristãos primitivos deram o nome de “dormitório” para o lugar dos mortos, ao invés de manterem o nome de necropolis? Porque, diferentemente dos pagãos que criam que a alma era imortal, eles acreditavam que os mortos estavam realmente “dormindo” até a volta de Jesus e a ressurreição para a vida.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)


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Comentários

  1. Que explicação excelente!

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  2. Oi Lucas
    Aqui é o João Felipe mais uma vez, e mais uma vez preciso de sua ajuda para refutar um argumento católico
    Em um site católico usam como argumento para justificar a assunção de Maria uma passagem de I Coríntios em que Paulo diz: “Eis que vos revelo um mistério: nem todos morreremos, mas todos seremos transformados” ( I Cor 15,51)
    Você sabe me explicar o que Paulo quer dizer com essa afirmação?

    Abraço amigo

    ResponderExcluir
  3. Oi Lucas
    Aqui é o João Felipe mais uma vez, e mais uma vez preciso de sua ajuda para refutar um argumento católico
    Em um site católico usam como argumento para justificar a assunção de Maria uma passagem de I Coríntios em que Paulo diz: “Eis que vos revelo um mistério: nem todos morreremos, mas todos seremos transformados” ( I Cor 15,51)
    Você sabe me explicar o que Paulo quer dizer com essa afirmação?

    Abraço amigo

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    Respostas
    1. É um completo absurdo e devaneio total atribuir esse texto a Maria. Paulo estava falando daqueles que não passariam pela morte na volta de Jesus, da mesma forma que fez aos tessalonicenses:

      “Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que NÓS, OS QUE FICARMOS VIVOS PARA A VINDA DO SENHOR, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois NÓS, OS QUE FICARMOS VIVOS, SEREMOS ARREBATADOS JUNTAMENTE COM ELES NAS NUVENS, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor” (1ª Tessalonicenses 4:14-17)

      É simplesmente inacreditável saber que existe gente chegando a este nível de distorção para colocar o dogma mariano para dentro da Bíblia a qualquer custo. Eu lido com catolicismo romano há muito tempo, e juro que nunca tinha visto nada igual.

      Abs!

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