Quem eram os templários?
A Primeira Cruzada, segundo Foucher
de Chartres[1],
deixou apenas 300 cavaleiros e 1200 sargentos para defender o reino de
Jerusalém, em 1100[2].
Os outros soldados, ao cumprirem a missão, voltaram aos seus respectivos
países. Por essa razão, uma segunda expedição foi enviada a Jerusalém a fim de protegê-la
com novos soldados. Além disso, uma cidade precisa de um povo. Por isso, uma
grande campanha foi feita em toda a Europa para que mais pessoas tivessem
interesse em morar onde Jesus morou. Mas esses novos peregrinos precisavam ser
protegidos em todo o trajeto. Para isso, foi criada uma Ordem militar bastante
conhecida: os templários[3].
Se para os revisionistas
históricos as Cruzadas foram a “salvação” da civilização ocidental, os
templários foram o símbolo-mor da piedade e do heroísmo. Os templários são
frequentemente descritos pela apologética católica como os heróis da Cristandade,
os salvadores do mundo, os paladinos da justiça. Muitos católicos
explicitamente se inspiram nos cruzados para fazer sua apologética, mal sabendo
eles quem foram realmente os templários. Os templários, à luz da verdade
histórica, eram os mais desprezíveis e ordinários delinquentes de toda a
Europa, e foi justamente por essa razão que eles foram escolhidos para ir
embora do continente para fazer suas bandidagens em outro lugar.
São Bernardo, o criador da
Ordem, em uma carta escrita ao arcebispo de Colônia e ao bispo de Spira,
registra expressamente que os templários eram “homicidas,
sequestradores, adúlteros, perjúrios e tantos outros criminosos”[4],
e que a viagem a Jerusalém era uma forma de expiar os seus pecados[5].
Era assim que o santo católico se regozijava com a partida dos templários para
a Palestina:
Há, nisso, dupla vantagem; a partida
dessa escória é uma libertação para a Europa e o Oriente se regozijará com sua
chegada por causa dos serviços que poderá prestar-lhe. Que prazer, para nós,
perder crueis devastadores, e que alegria, para Jerusalém, ganhar fieis
defensores! É assim que se vinga Cristo de seus inimigos; é assim que triunfa
deles e por eles. Transforma adversários em parceiros; de um inimigo faz um
cavaleiro, como, outrora, de um Saulo perseguidor, fez um Paulo apóstolo.[6]
Se os cruzados como um todo já
eram os monstros morais que vimos no capítulo anterior, os templários em
especial eram a escória da escória. Crueis
devastadores na própria Europa, foram escolhidos para serem enviados em uma
missão, para deixarem a Europa livre destas pestes. Sem poupar palavras, São
Bernardo ainda descreve os templários como os “perversos,
ímpios, sequestradores, sacrílegos”[7],
dos quais era uma felicidade livrar-se a Europa. Lins comenta que, “alimentando
monstruosa e insaciável ambição, passaram os templários a constituir
verdadeiros ‘bandidos ungidos’, porquanto, se ostentavam bravura, acobertavam,
com o hábito monástico, os mais detestáveis vícios e as mais veementes paixões
do guerreiro medieval”[8].
Ele diz ainda que, “salvo exceções raríssimas, eram os templários os maiores
facínoras da época”[9]. No dizer do abade
de Claraval, se eram isso em seus próprios países, que se tornariam entre os infiéis,
na Ásia, onde as guerras incessantes e as privações de toda espécie só lhes
podiam aguçar e exacerbar os mais detestáveis instintos?[10] E
o abade Fleury os descreve da seguinte maneira:
Não eram ainda decorridos 60 anos que
haviam sido instituídos esses religiosos e se achavam de tal modo degradados
que os escritores cristãos e maometanos, pouco concordes, a outros respeitos,
em seus julgamentos, são unânimes em
pintá-los como os mais detestáveis dos homens. Em suas depredações e latrocínios
não poupavam os cristãos mais do que os infiéis, relativamente aos quais não
guardavam nem tratados, nem juramentos.[11]
Sobre Reinaldo de Châtillon, o
aliado dos templários, Lins comenta:
Entrando, quando príncipe de
Antioquia, em luta com o velho patriarca desta cidade, fê-lo açoitar
cruelmente, e, depois de untar-lhe com mel a cabeça inteiramente calva e as
feridas produzidas pelos açoites, deixou-o, vários dias, completamente nu,
exposto ao tremendo sol do sufocante verão da Síria, no alto da torre de seu
castelo. O mel, com que fora untado o patriarca, tinha por fim atrair os
insetos, que deviam atormentá-lo com suas picadas. Em 1155, Renaud de Châtillon
atacou, de improviso, em plena paz, a ilha de Chipre, habitada, como se sabe,
por cristãos gregos. Inarráveis atrocidades que, com seus sicários, aí
praticou.[12]
Schlumberger narra essas
atrocidades:
Cortavam as mãos, os pés, os narizes
e as orelhas dos arcontes e magnatas insulares, sobretudo dos bispos, padres e
monges. As mulheres foram violadas, as crianças degoladas, as populações
expulsas em massa para o campo, as aldeias pilhadas e depois incendiadas, os
conventos e igrejas depredados e saqueados, e até as árvores frutíferas
serradas e queimadas.[13]
Os templários eram tão bestiais
e facínoras que em uma ocasião o rei Filipe IV, da França (1268-1314), mandou
queimar 54 deles de uma só vez, confiscando-lhes os bens, e nisso foi aprovado
pelo então papa Clemente V[14].
Até o Terceiro Concílio de Latrão (1179), considerado oficial pela Igreja
Romana, dizia:
Recebemos com veemência as denúncias
formuladas por nossos irmãos e companheiros bispos que os Templários e os
Hospitalários, e outros religiosos professos, superando os privilégios
concedidos pela Sé Apostólica, muitas vezes ignoram a autoridade episcopal,
causando escândalo para o povo de Deus e de graves perigos para as almas.[15]
O fim dos templários foi tão
miserável quanto a sua vida. Foram caçados e torturados pela Santa Inquisição –
a mesma que era usada para queimar os inimigos da Igreja Romana –, que mandou
para a fogueira o seu líder, confiscou os bens dos templários e acabou com a
Ordem:
Sob tortura, os templários presos em
1307 “confessam” os mais diversos crimes, erros, heresias e blasfêmias. Seus
bens são em parte confiscados, em parte transferidos para o Hospital e sua
ordem abolida pelo papa em 1312. Os erros de apreciação e a falta de
discernimento político de seu mestre Jacques de Molay, morto na fogueira em
1314, concentram em si os danos causados na época em todas as ordens religiosas
militares.[16]
Malucelli escreve que dois mil
templários foram presos e torturados, e centenas foram queimados[17]. E
assim, miseravelmente caçados e execrados pela própria Igreja assassina a qual defendiam, termina a Ordem hoje tão admirada e celebrada em toda a apologética
católica, por revisionistas sem nenhum escrúpulo e amor à verdade.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
-Meus livros:
- Veja uma lista de livros meus clicando aqui.
- Confira minha página no facebook clicando aqui.
- Acesse meu canal no YouTube clicando aqui.
-Não deixe de acessar meus outros blogs:
- LucasBanzoli.Com (Um compêndio de todos os artigos já escritos por mim)
- Apologia Cristã (Artigos de apologética cristã sobre doutrina e moral)
- O Cristianismo em Foco (Artigos devocionais e estudos bíblicos)
- Desvendando a Lenda (Refutando a imortalidade da alma)
- Ateísmo Refutado (Evidências da existência de Deus e veracidade da Bíblia)
- Fim da Fraude (Refutando as mentiras dos apologistas católicos)
[1]
FLORI, Jean. A Cavalaria: A origem dos
nobres guerreiros da Idade Média. São Paulo: Madras, 2005, p. 178.
[2]
HEERS, Jacques. História Medieval. 1ª
ed. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1974, p. 168.
[3]
Além dos templários, foi criada por essa ocasião também a Ordem dos
Hospitalários, “que tentava combinar ainda mais as ideias do Cristianismo e as
da cavalaria” (HARARI, Yuval Noah. Sapiens
– Uma breve história da humanidade. São Paulo: L&PM, 2015), uma vez que
“tinham uma dupla função e ofereciam cuidados médicos além de proteção militar”
(PHILLIPS, Jonathan. La cuarta cruzada y
el saco de Constantinopla. 1ª Ed. Barcelona: CRÍTICA, S. L., 2005, p. 24).
Como os templários ficaram mais famosos através dos séculos e são bem mais
recorrentes na literatura revisionista, é deles que trataremos aqui.
[4]
Apud LE GOFF, Jacques. La Baja Edad
Media. 1ª ed. Madrid: Siglo XXI, 1971, p. 126.
[5]
ibid.
[6]
Apud LINS, Ivan. A Idade Média – A
Cavalaria e as Cruzadas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Pan-Americana, 1944, p. 349.
[7]
Apud LINS, Ivan. A Idade Média – A
Cavalaria e as Cruzadas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Pan-Americana, 1944, p.
348-349.
[8]
LINS, Ivan. A Idade Média – A Cavalaria e
as Cruzadas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Pan-Americana, 1944, p. 348-349.
[9]
ibid, p. 357.
[10]
Apud Ivan. A Idade Média – A Cavalaria e
as Cruzadas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Pan-Americana, 1944, p. 357.
[11]
Abade FLEURY. História Eclesiástica. Livro
72, c. 42.
[12]
LINS, Ivan. A Idade Média – A Cavalaria e
as Cruzadas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Pan-Americana, 1944, p. 356.
[13] SCHLUMBERGER, Renaud de Châtillon, p. 60-61.
[14]
LINS, Ivan. A Idade Média – A Cavalaria e
as Cruzadas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Pan-Americana, 1944, p. 357-358.
[15]
Terceiro Concílio de Latrão, Cânon 9.
[16]
FLORI, Jean. A Cavalaria: A origem dos
nobres guerreiros da Idade Média. São Paulo: Madras, 2005, p. 181.
[17]
MALUCELLI, Laura; FO, Jacopo; TOMAT Sergio. O
livro negro do cristianismo: dois mil anos de crimes em nome de Deus. Rio
de Janeiro: Ediouro, 2007.
Eram homens muito legais.
ResponderExcluirMuito...
ExcluirArigato. :)
ResponderExcluirLucas como responder isso ?
ResponderExcluirSERÁ QUE O LIVRO DE ESTER É APÓCRIFO?
- Não foi citado por Cristo nem pelos apóstolos;
- Foi rejeitado por Melitão de Sardes, Anfilóquio de Icônio, Gregório de Nazianzo;
- Atanásio de Alexandria o indica apenas para leitura, colocando-o para fora do cânon;
- Possui inexatidões históricas;
- Não há registros da existência de Ester na antiguidade;
- Exalta a vingança;
1) Vários outros livros também não foram citados por Cristo nem pelos apóstolos e no entanto são canônicos (Rute, Cantares, etc).
Excluir2) Mas foi aprovado pela esmagadora maioria dos Pais. Veja:
http://apologiacrista.com/desmascarando-os-livros-apocrifos-p12
http://apologiacrista.com/desmascarando-os-livros-apocrifos-p2
3) Ibidem pro ponto 2.
4) Quais inexatidões?
5) Também não há provas da existência de Daniel e de outros personagens bíblicos, e nem por isso Daniel é apócrifo. A arqueologia não pode descobrir tudo. Ela descobre cada coisa de cada vez.
6) O próprio Deus é chamado de "Deus da vingança" nos Salmos (Sl.94:1), e em Samuel está escrito que "Deus que me dá inteira vingança" (2Sm.22:48), e nem por isso os Salmos e 2 Samuel são apócrifos.
Olá Lucas, e como fica a história dos templários serem monges guerreiros? isso é um mito ou realmente existiu um grupo de padres treinados desde de pequenos para serem também soldados da "fé".
ResponderExcluirSim, os templários eram monges-guerreiros, daí já se pode imaginar o nível dos monges da época...
ExcluirArtigo bastante esclarecedor! E um pouco diferente dos discursos proferidos sobre os templários no primeiro episódio do Brasil Paralelo:
ResponderExcluirCapítulo 1 - A Cruz e a Espada | Brasil - A Última Cruzada:
https://www.youtube.com/watch?v=TkOlAKE7xqY
Um pouco diferente ?hahahha
Excluir