Breve resumo de heresias católicas - Parte 1


I – Imaculada Conceição de Maria

Os católicos alegam que o dogma da imaculada conceição de Maria é respaldado por Lucas 1:28, que, de acordo com muitas traduções católicas, afirma que Maria é “cheia de graça” (Lc.1:28). Porém, este argumento é por demais fraco e insustentável para fundamentar tal dogma, visto que Deus não concede uma graça incompleta ou limitada.

Paulo diz que todos nós “abundamos em toda a graça” (1Co.9:8), e que Deus nos “encheu de graça” (Ef.2:6); Estêvão era “cheio de graça” (At.6:8), João nos diz que recebemos a plenitude da graça de Deus (Jo.1:16), “graça sobre graça” (Jo.1:16), os apóstolos todos tinham “abundante graça” (At.4:33), e Deus derramou sobre nós “superabundante graça” (1Tm.4:14; Rm.5:20).

Portanto, a alegação católica de que ser “cheio de graça” implica em não cometer pecados não passa de um grande embuste. Sem base na Escritura Sagrada, os católicos apelam para a tradição. Porém, nem mesmo neste campo eles se seguram, visto que muitos Pais da Igreja negaram tal doutrina, tais como Orígenes, Tertuliano, João Crisóstomo, Ambrósio de Milão, Cirilo de Jerusalém, entre outros. 

Da mesma forma, muitos Doutores da Igreja negaram a imaculada conceição, nomes como Pedro Lombardo, Alexandre de Hales, Boaventura, Alberto Magno, Bernardo de Claravaux e até o próprio Tomás de Aquino.

Por fim, muitos papas (bispos de Roma) também negaram veementemente o dogma da imaculada conceição, tais como Leão I, Gelásio I, Gregório I e Inocêncio III. Tomás de Aquino disse que “a bem aventurada virgem contraiu o pecado original”[1], e afirmou que, “se ela nunca tivesse incorrido na mancha do pecado original, não teria necessitado da redenção e da salvação, que é por Cristo”[2].

Para ler mais sobre a imaculada conceição, clique aqui.


II – Celibato obrigatório dos sacerdotes

Embora evidentemente nenhum sacerdote seja obrigado a se casar, da mesma forma ninguém é forçado a negar o matrimônio. Pedro era casado (Mt.8:14), assim como os irmãos do Senhor e os demais apóstolos (1Co.9:5). Paulo nos disse que era para o bispo ter “uma só mulher” (1Tm.3:2), e “governar bem a sua casa” (1Tm.3:2), “tendo os seus filhos a sujeição” (1Tm.3:4), indicando que os bispos seriam casados e com filhos.

O evangelista Filipe também era casado e tinha quatro filhas (At.21:8,9), e nem mesmo os próprios sacerdotes do Antigo Testamento eram proibidos de se casar, mas é nos dito para eles “tomarem virgens da linhagem da casa de Israel, ou viúva que for viúva de sacerdote” (Ez.44:22). Clemente de Alexandria nos dá “uma lista dos apóstolos que comprovadamente foram casados”[3], dizendo que Pedro Felipe criaram filhos”[4]. Na época não existia o que hoje é conhecido como o celibato obrigatório do clero. Tanto é que o papa Inocêncio I (401-417) era filho de outro papa, seu predecessor Anastácio I (399-401).

Para ler mais sobre o celibato obrigatório, clique aqui.


III – Pedro foi o primeiro papa

Não há indícios bíblicos ou históricos de que Pedro tenha sido sequer bispo de Roma, quanto menos papa. Pedro não aparece na lista dos vinte e oito saudados por Paulo quando este escreveu aos romanos (Rm.16:3-16), não aparece entre aqueles que estavam com Paulo em Roma quando este escreveu aos colossenses em Roma (Cl.4:7-17), não aparece  entre aqueles que estavam com Paulo em Roma quando este escreveu a Filemom em Roma (Fl.1:23-25), nem tampouco aos filipenses (Fp.4:21-23), nem em 2ª Timóteo, quando já estava próximo de seu martírio em Roma (2Tm.4:9-12, 21,22).

A Timóteo, Paulo diz que “só Lucas está comigo” (2Tm.4:11), indicando que Pedro não estava. E quando ele cita os “únicos da circuncisão” (Cl.4:11) que estavam com ele em Roma, ele faz menção de Tíquico, Onésimo, Aristarco, Marcos e Jesus chamado Justo, deixando Pedro de fora (Cl.4:9-11). Se é difícil colocar Pedro em Roma durante o ministério de Paulo, quanto mais encontrar provas de seu “papado” ali.

A história nos diz que o primeiro bispo de Roma foi Lino, de acordo com Eusébio de Cesareia[5]. Segundo este historiador da Igreja primitiva, “Lino foi designado como primeiro bispo de Roma”[6]. Segundo o mesmo, Clemente teria sido o “terceiro bispo de Roma”[7], deixando Lino como sendo o primeiro e Anacleto o segundo, de acordo com a própria tradição.

Desta forma, vemos que nem pela Bíblia, tampouco pela História, Pedro se instalou em Roma como bispo. Os que dizem que Pedro foi a Roma afirmam que isso ocorreu somente no final de sua vida para ser martirizado, como diz Eusébio citando Orígenes, ao dizer: “Pedro, segundo parece, pregou no Ponto, na Galácia e na Bitínia, na Capadócia e na Ásia, aos judeus da diáspora; por fim chegou a Roma e foi crucificado com a cabeça para baixo, como ele mesmo pediu para sofrer”[8].

Para ler mais sobre o primado de Pedro, clique aqui.


IV – A existência do purgatório

Não há nenhuma lenda tão fictícia quanto a invenção do purgatório. Enquanto a Bíblia nos diz que “o sangue de Jesus nos purifica de todo pecado” (1Jo.1:7), a Igreja Romana nos diz que o purgatório purifica os pecados que não foram purificados com Cristo. Enquanto a Bíblia nos diz que o arrependimento é um precedente necessário e indispensável para a salvação, a Igreja Romana afirma que é possível ser salvo mesmo sem ter se arrependido dos pecados menos graves, por meio do purgatório[9].

Enquanto a Escritura Sagrada declara que aqueles que cometeram pecados menos graves não iriam herdar o Reino dos Céus de jeito nenhum (Gl.5:20-21), a Igreja de Roma envia facilmente para lá aqueles que passam pelo purgatório. Desta forma, tal ensino anula o valor do sacrifício de Jesus Cristo na cruz do Calvário e a total necessidade do arrependimento na vida do cristão, além de relativizar o valor do pecado.

Nem mesmo apelar para uma tradição oral é uma saída aqui, visto que nenhum Pai da Igreja jamais ensinou tal doutrina e que até hoje as próprias Igrejas Ortodoxas orientais, que também nasceram no século I, não creem na existência deste tal lugar. As poucas passagens isoladas da Bíblia utilizadas para justificar tal crença são sempre mal utilizadas e tiradas de seu devido contexto.

Uma delas fala do dia do Juízo Final, e não de um juízo imediatamente após a morte (1Co.3:15). Jesus prometeu o Paraíso – e não o purgatório – para o ladrão ao seu lado na cruz (Lc.23:43). Se o purgatório conseguisse efetivamente purgar os pecados que Cristo não purgou, o sacrifício de Jesus seria desnecessário – bastaria que todo mundo fosse para o purgatório de uma vez – e Cristo só teria morrido pelos pecados mais graves, mas dos “pequenos” o purgatório daria conta sem a ajuda de Cristo.

Para ler mais sobre o purgatório, clique aqui.


V – A primazia do bispo romano

Os católicos adulteraram alguns escritos de Cipriano para corroborar com as suas teses do primado do bispo romano através dos séculos. Inventaram que ele disse que “os romanos não podem errar na fé”, e que “Roma é a matriz e o trono da Igreja Católica”. Porém, como podemos ver no meu artigo sobre as adulterações católicas nos escritos de Cipriano, essas citações são falsas e forjadas.

O que Cipriano realmente fez foi chamar o bispo de Roma da sua época de “amigo de hereges e inimigo dos cristãos”[10], além de ter declarado no Sétimo Concílio de Cartago que “nenhum de nós coloca-se como um bispo de bispos”[11], pois “cada um tem seu próprio direito de julgamento, e não pode ser julgado por outro mais do que ele mesmo pode julgar um outro”[12].

Também disse que o bispo de Roma de sua época (Estêvão), “esquecendo-se da unidade, adota as mentiras e contágios do lavar profano”[13]. Inácio afirmou aos romanos que eles presidiam na região dos romanos, e não sobre as igrejas do mundo todo[14]. Eusébio nos disse que certa medida adotada por Victor (bispo de Roma) não agradou a todos os bispos, de maneira que estes “repreenderam Victor com bastante energia”[15].

Eusébio nos diz que o “primeiro” e mais proeminente bispo da primeira metade do século III foi Cipriano, e não o bispo romano[16]. O primeiro Concílio de Niceia nos diz que “o bispo de Alexandria terá jurisdição sobre o Egito, Líbia e Pentápolis; assim como o bispo Romano sobre o que está sujeito a Roma. Assim, também, o bispo de Antioquia e os outros, sobre o que está sob sua jurisdição”[17].

Portanto, a jurisdição de Roma era limitada à própria Roma, e não universalmente. Quem tinha a autoridade jurisdicional sobre o Egito, Líbia e Pentápolis não era Roma, mas Alexandria[18]. Por diversas vezes o papa Gregório Magno rejeitou o título de “papa universal” para si mesmo, chamando-o de “título soberbo”[19], e que tal pessoa que tomasse para si mesma tal título seria um “precursor do anticristo”[20] que foi tomado pelo orgulho de Satanás[21], por querer se colocar acima de todos os demais bispos[22], quando na verdade havia igualdade entre todos eles.

Para ler mais sobre a primazia do bispo romano, clique aqui.

Em breve, mais heresias católicas refutadas.

Paz a todos vocês que estão em Cristo. 

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)


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-Notas e referências bibliográficas: 

[1] Tomás de Aquino, “Suma Teológica”, Parte III, Questão XXVII, Artigo II. 

[2] Tomás de Aquino, Suma Teológica, art. II, parte III, pergunta XXVII. 

[3] História Eclesiástica, Livro III, 30:1. 

[4] História Eclesiástica, Livro III, 30:1-2. 

[5] História Eclesiástica, Livro III, 2:1. 

[6] ibid. 

[7] História Eclesiástica, Livro III, 4:9. 

[8] História Eclesiástica, Livro III, 1:2. 

[9] Papa Pio IV, A Base da Doutrina Católica contida na Profissão de Fé.  

[10] Cipriano, Epístola 74. 

[11] Sétimo Concílio de Cartago, presidido por Cipriano. 

[12] ibid. 

[13] Cipriano, Epístola 74. 

[14] Inácio aos Romanos, Saudação. 

[15] História Eclesiástica, Livro V, 24:9-10. 

[16] História Eclesiástica, Livro VII, 3:1. 

[17] Primeiro Concílio de Niceia, Cânon VI. 

[18] ibid. 

[19] Papa Gregório Magno, Epistolarum V, Ep. 18, PL 77, pag. 739. 

[20] Papa Gregório Magno, a Maurícius Augustus. 

[21] Papa Gregório Magno, Epistolarum V, Ep. 18, PL 77, pag. 739-740. 

[22] Papa Gregório Magno, Epístola 8.30, a Eulógio, bispo de Alexandria.

Comentários

  1. Lucas, quem foi realmente o primeiro Papa da Igreja católica apostólica romana?

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    1. Esse é o problema: não há informações confiáveis ou seguras a este respeito historicamente. O que existe é uma série de afirmações históricas conflitantes e divergentes, de várias fontes diferentes. Vou postar nos próximos dias um artigo sobre isso aqui no blog, e quando fizer isso complemento essa resposta com o link.

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  2. Como o celibato pode ser uma heresia se ele não é doutrina, e sim disciplina da igreja de rito latino? (Os católicos orientais não exigem celibato obrigatório para o sacerdócio.)

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    1. Qualquer falso ensino ou prática é uma heresia, se entra em contradição com as Escrituras. E a Igreja Ortodoxa é uma outra igreja, com suas próprias regras e doutrinas internas, negando inclusive o primado jurisdicional do papa, sua infalibilidade e dogmas como imaculada conceição e purgatório.

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